Todo mundo, sem exceção, busca a felicidade. Se é assim, ela seria inatingível, pois estamos o tempo inteiro perseguindo-a? Na verdade, a felicidade é efêmera. Ela é alcançada, mas é um estado de espírito que deve ser cultivado e conquistado a cada instante e buscado para sempre, todos os dias de nossas vidas. A frase que definiria bem seria eu estou feliz ao invés de eu sou feliz. Ninguém é feliz o tempo inteiro. Mas estar feliz depende muito da gente. Assim, não desejo a todos que sejam felizes; desejem ser felizes, busque a felicidade, pois ela virá, depois se vai e virá de novo eternamente.
Deixo aqui, como primeiro post de 2011, uma crônica que escrevi há alguns anos sobre a felicidade e nossa correria de cada dia, na qual seguimos em frente por inércia, num estado de letargia que mal temos tempo de perceber qual sentimento nos domina, em que estado de espírito vivemos, acreditando que estamos próximos a alcançar a felicidade.
Comprando a Felicidade
Vivo me perguntando se viver é simples ou complicado. Depois deixo para lá. Só que essa questão acaba voltando aos meus pensamentos e mais uma vez a esqueço. Num outro dia a dúvida torna a surgir, para novamente ser esquecida. Não que a ignore, pelo contrário me canso de tanto pensar, é que nunca encontro a resposta!
Para mim deveria ser simples. Só que a resposta não é tão fácil assim. Preciso de um argumento que a justifique. Utilizo o recurso de uma outra pergunta: o que é preciso para ser feliz?
Partindo do princípio de que o objetivo de nossa vida é a busca pela felicidade, se tivermos a resposta para a segunda pergunta, encontra-se a resposta para a primeira.
Eu preciso de tão pouco para ser feliz. A complexidade que se tornou o nosso dia a dia nos enche de problemas, gostaria de jogar tudo para o alto e viver meus dias, tranqüilamente, numa casinha humilde, de frente para o mar, tomando banho de sol e bebendo água de coco numa sombra, com um cachorro que me faria companhia. Não precisaria me preocupar com transito, com as roupas que tenho em meu armário, com sapato apertando, não importaria se o vizinho tem um carro melhor que o meu, na verdade não me interessaria por carro algum, pois não precisaria de um, não haveria onde ir além da minha praia. A única coisa de valor que teria seria minha estante de livros que estaria sendo constantemente atualizada. Assim, meus dias passariam calmos e tranqüilos, mas não vazios, teria uma vida feliz, aproveitada intensamente em cada segundo. Sim, por esse ponto de vista, viver pode ser simples!
No entanto, preciso me alimentar, comprar minhas roupas, por mais despojadas que fossem, meu chinelo de dedo e meus livros. Preciso pagar minhas contas e impostos. Para isso precisaria trabalhar, não que quisesse viver no ócio, mas teria que batalhar por um emprego, me especializar, estudar inglês, computação e lá vai mais dinheiro gasto. Enviar currículos, ouvir muitos nãos, necessitaria experiência, espírito de liderança, dinamismo, habilidade de trabalhar em grupo, de ouvir, de se expressar e cair na simpatia da psicóloga que faz a entrevista. A essa altura já estaria estressada e pensando em porque a vida não se resume a uma casinha humilde na praia.
No trabalho lá vem hora extra, metas a cumprir, chefe mau humorado e que não sabe me valorizar, a promoção ou aumento que nunca vêm, transito de manhã, engarrafamento no fim do dia e o sonho da casa na praia cada vez mais distante e irreal. Agora a vida me parece bem complicada!
Por isso sigo com meu dilema. Preciso mergulhar de corpo e alma na roda viva dos nossos dias, para no fim do mês ganhar um salário menor do que mereço e com ele tentar comprar um pouco da felicidade almejada, por mais simples que ela seja, e quando há sobras no ordenado para isso. Me distraio com minha rotina e esqueço minha indagação, mas não poderei fugir, sei que a pergunta vai voltar. Viver é simples ou complicado?