Antes de tudo, gostaria de deixar
bem claro que não estou falando em nome da Petrobras, nem em nome dos
organizadores do movimento “Sou Petrobras”, nem em nome de ninguém que aparece
nas fotos da matéria. Falo, exclusivamente, em meu nome e escrevo esta carta
porque apareço em uma das fotos que ilustram a reportagem publicada no jornal O
Globo do dia 15 de fevereiro, intitulada “Nova Rotina de Medo e Tensão”.
Fico imaginando como a dita
jornalista sabe tão detalhadamente a respeito do nosso cotidiano de trabalho
para escrever com tanta propriedade, como se tudo fosse a mais pura verdade, e
afirmar com tamanha certeza de que vivemos uma rotina de medo, assombrados por
boatos de demissões, que passamos o dia em silêncio na ponta das cadeiras
atualizando os e-mails apreensivos a cada clique, que trabalhamos tensos com
medo de receber e-mails com represálias, assim criando uma ideia, para quem lê,
a respeito de como é o clima no dia a dia de trabalho dentro da Petrobrás como
se a mesma o estivesse vivendo.
Acho que tanta criatividade só
pode ser baseada na própria realidade de trabalho da Letícia, que em sua rotina
passa por todas estas experiências de terror e a utiliza para descrever a nossa
como se vivêssemos a mesma experiência. Ameaças de demissão assombram o jornal
em que ela trabalha, já tendo vários colegas sendo demitidos[1], a rotina de
e-mails com represálias e determinando que tipo de informação deve ser
publicada ou escondida devem ser rotina em seu trabalho[2], sempre na intenção
de desinformar a população e transmitir só o que interessa, mantendo a
população refém de informações mentirosas e distorcidas.
Fico impressionada com o conteúdo
da matéria e não posso deixar de pensar como a Letícia não tem vergonha de a
ter escrito e assinado. Com tantas coisas sérias acontecendo em nosso país ela
está preocupada com o andar onde fica localizada a máquina que faz o café que
nós tomamos e com a marca do papel higiênico que usamos. Mas dá para entender o
porque disto, fica claro para quem lê o seu texto com um mínimo de senso
crítico: o conteúdo é o que menos importa, o negócio do jornal é falar mal, é
dar uma conotação negativa, denegrir a empresa na sua jornada diária de
linchamento público da Petrobras. Não é de hoje que as Organizações Globo tem
objetivo muito bem definido[3] em relação à Petrobras: entregar um patrimônio
que pertence à população brasileira à interesses privados internacionais. É a
este propósito que a Leticia Fernandes serve quando escreve sua matéria.
Leticia, não te vejo, nem você
nem O Globo, se escandalizado com outros casos tão ou mais graves quanto o da
Petrobras. O único escândalo que me lembro ter ganho as mesma proporção histérica
nas páginas deste jornal foi o da AP 470, por que? Por que não revelam as
provas escondidas no Inquérito 2474[4] e não foi falado nisto? Por que não leio
nas páginas do jornal, onde você trabalha, sobre o escândalo do HSBC[5]? Quem
são os protegidos? Por que o silêncio sobre a dívida da sonegação[6] da Globo
que é tanto dinheiro, ou mais, do que os partidos “receberam” da corrupção na
Petrobras? Por que não é divulgado que as investigações em torno do helicoca[7]
foram paralisadas, abafadas e arquivadas, afinal o transporte de quase 500
quilos de cocaína deveria ser um escândalo, não? E o dinheiro usado para
construção de certos aeroportos em fazendas privadas em Minas Gerais [8]? Afinal
este dinheiro também veio dos cofres públicos e desviados do povo. Já está tudo
esclarecido sobre isto? Por que não se fala mais nada? E o caso Alstom[9], por
que as delações não valem? Por que não há um estardalhaço em torno deste
assunto uma vez que foi surrupiado dos cofres públicos vultosas quantias em
dinheiro? Por que você e seu jornal não se escandalizam com a prescrição e
impunidade dos envolvidos no caso do Banestado[10] e a participação do famoso
doleiro neste caso? Onde estão as manchetes sobre o desgoverno no Estado do
Paraná[11]? Deixo estas perguntas como sugestão e matérias para você escrever
já que anda tão sem assunto que precisou dar destaque sobre o cafezinho e o
papel higiênico dos funcionários da Petrobras.
A você, Leticia, te escrevo para
dizer que tenho muito orgulho de trabalhar na Petrobras, que farei o que
estiver ao meu alcance para que uma empresa suja e golpista como a que você
trabalha não atinja seu objetivo. Já você não deve ter tanto orgulho de
trabalhar onde trabalha, que além de cercear o trabalho de seus jornalistas
determinando “as verdades” que devem publicar, apoiou a Ditadura no Brasil[12],
cresceu e chegou onde está graças a este apoio. Ao contrário da Petrobras, a
empresa que você se esforça para denegrir a imagem, que chegou ao seu
gigantismo graças a muito trabalho, pesquisa, desenvolvimento de tecnologia
própria e trazendo desenvolvimento para todo o Brasil.
Quanto às demissões que estão
ocorrendo, é muito triste que tantas pessoas percam seu trabalho, mas são
funcionários de empresas prestadoras de serviço e não da Petrobras. Você não
pode culpar a Petrobras por todas as mazelas do país, e nem esperar que ela
sustente o Brasil, ou você não sabe que não existe estabilidade no trabalho no
mundo dos negócios? Não sabe que todo negócio tem seu risco? Você culpa a
Petrobras por tanta gente ter aberto negócios próximos onde haveria
empreendimentos da empresa, mas a culpa disto é do mal planejamento de quem
investiu. Todo planejamento para se abrir um negócio deveria conter os riscos
envolvidos bem detalhados, sendo que o maior deles era não ficar pronta a
unidade da Petrobras, que só pode ser culpada de ter planejado mal o seu
próprio negócio, não o de terceiros. Imputar à Petrobras o fracasso de
terceiros é de uma enorme desonestidade intelectual.
Quando fui posar para a foto, que
aparece na reportagem, minha intenção não era apenas defender os empregados da
injustiça e hostilidades que vem sofrendo sendo questionados sobre sua
honestidade, porque quem faz isto só me dá pena pela demonstração de
ignorância. Minha intenção era mostrar que a Petrobras é um patrimônio
brasileiro, maior que tudo isto que está acontecendo, que não pode ser
destruída por bandidos confessos que posam neste jornal como heróis, por juízes
que agem por vaidade e estrelismos apoiados pelo estardalhaço e holofotes que
vocês dão a eles, pelo mercado que só quer lucrar com especulação e nunca
constrói nada de concreto e por um jornal repulsivo como O Globo que não tem
compromisso com a verdade nem com o Brasil.
Por fim, digo que cada vez fica
ainda mais evidente a necessidade de uma democratização da mídia, que
proporcionará acesso a uma diversidade de informação maior à população que
atualmente é refém de uma mídia que não tem respeito com o seu leitor e
manipula a notícia em prol de seus interesses, no qual tudo que publica
praticamente não é contestado por não haver outros veículos que o possa
contradizer devido à concentração que hoje existe. Para não perder um poder
deste tamanho vocês urram contra a reforma, que se faz cada vez mais urgente,
dizendo ser censura ou contra a liberdade de imprensa, mas não é nada além de
aplicar o que já está escrito na Constituição Federal[12], sendo a concentração
de poder que algumas famílias, como a Marinho detém, totalmente
inconstitucional.
Sendo assim, deixo registrado a
minha repugnância em relação à matéria por você escrita, utilizando para ilustrá-la
uma foto na qual eu estou presente com uma intenção radicalmente oposta a que
ela foi utilizada por você.
Fontes:
[1] Demissões nas Organizações
Globo:
[2] Exemplos de o que deve e não
deve ser publicado
[3] Objetivos
[4] Inquérito 2474
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/127938/Nassif-STF-vai-abrir-segredo-de-Joaquim-Barbosa.htm
[5] Escândalo do HSBC
[6] Sonegação Globo
[7] Helicoca
[8] Aeroportos Mineiros
[9] Alstom
[10] Banestado
[11] Beto Richa e o Paraná
[12] Globo e a Ditadura
http://www.viomundo.com.br/humor/exclusivo-as-entrevistas-ferozes-de-o-globo-com-seus-camaradas.html
[12] CF/88
Diz o artigo 220 da Carta, no inciso II do parágrafo 3°:II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Já o parágrafo 5° diz:
Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
E o artigo 221. por sua vez, prescreve:
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.