Atualmente, os países podem ser divididos (para referência política e econômica), de acordo com o grau de desenvolvimento socioeconômico, em desenvolvidos ou em desenvolvimento. O Brasil faz parte do segundo grupo. Contudo, é um dos países que vêm apresentando bom desempenho econômico principalmente nas últimas duas décadas e muita coisa vem melhorando.
Nem sempre foi assim, nós éramos chamados de subdesenvolvidos. Hoje este termo está em desuso, digamos que fica mais bonito classificar uma nação como país em desenvolvimento ou como país emergente, já que o termo subdesenvolvido ficou estigmatizado. Porém, retomo o termo porque não é a forma de classificar que altera uma situação, embora uma evolução no modo de pensar o mundo promova a mudança classificatória repercutindo sobre a postura política. Mas a realidade é a realidade e esse jogo de palavras serve para melhor compreendê-la, mas guiado por determinados interesses.
O subdesenvolvimento é resultado de um processo histórico específico que requer uma teorização própria uma vez que as teorias econômicas formuladas com base nas economias mais avançadas não conseguem explicá-lo. Celso Furtado foi um economista preocupado com a situação do país e por isso estudou as singularidades de nossa formação econômica e sobre este quadro formulou o que chamou de teoria do subdesenvolvimento. Para ele:
“O subdesenvolvimento é um processo histórico autônomo, que nada tem a ver com o atraso e com a estagnação. Não é uma etapa pela qual tenham passado necessariamente as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento. É uma forma de crescimento com certas características particulares, que são uma verdadeira armadilha histórica”, Furtado (2002).
Segundo Furtado, não existe uma teoria completa que explique o comportamento de uma economia subdesenvolvida porque o caminho seguido por países nessas condições foi diferente do percorrido pelos desenvolvidos. O atraso se deve a incapacidade de reproduzir o mesmo processo de industrialização dos países cêntricos. Assim, o subdesenvolvimento é resultante de um processo de dependência de um país que foi edificado com base na exportação de matérias primas e produtos agrícolas para serem beneficiados lá fora e importados agregado de valor e tecnologia, prontos para consumo. Não que seja totalmente desprovido de indústrias, o que não existe é um sistema industrial autônomo, mas sim dependente de importação tecnológica.
O resultado é uma situação particular em que os países desenvolvidos utilizam recursos naturais, mão-de-obra barata e abundante, energia a baixo custo, incentivos fiscais e subsídios governamentais dos países com industrialização tardia, transferem para estes as indústrias “pesadas”, as mais poluidoras, as obsoletas e ficam com as de “ponta”, que utilizam a mais alta tecnologia desenvolvida.
Nos anos de 1990, com a abertura do mercado brasileiro e a enxurrada de produtos importados, nossa situação melhorou muito, as opções de compra se ampliaram possibilitando um maior poder de escolha do consumidor. A entrada no país das mercadorias estrangeiras, que antes não tínhamos acesso, possibilitou uma concorrência obrigando aos fornecedores nacionais melhorem seus produtos, isto quando não foram engolidos pelas empresas transnacionais ou quebraram. Porém, nos foi dado acesso a bens mais “sofisticados” que há muito já fazia parte da cultura de consumo dos países desenvolvidos.
Assim, o resultado deste processo, na prática, é uma sensível diferença nos bens de consumo finais e em seus preços. Apesar dos avanços, o que nos chega para consumir aqui no Brasil, lá fora já é tecnologia obsoleta, considerando ainda que pagamos caro por esta tecnologia que está sendo descartada pelos outros, que além de estarem à nossa frente ainda pagam menos. Isso é sentido aqui quando vemos pessoas voltando do exterior com as malas cheias de compras, principalmente eletrônicos, podemos também citar artigos de uso mais comuns como os tênis, roupas, jeans, perfumes, etc.
Só que nos acostumamos, nosso mundinho é este, como saímos de uma situação inferior logo notamos a melhora e achamos que está bom; continuamos acreditando que os produtos importados são os melhores, que para comprar eletrônicos barato e com tecnologia de ponta só indo ao exterior. Mas estamos míopes, pois não vivenciamos a experiência de quem mora num país desenvolvido, não é por acaso que os gringos vêm aqui e saem achando que somos uma selva, que vivemos em meio a macacos (claro que muito dessa visão é por pura ignorância).
Este ano, tive a oportunidade de vivenciar como é estar num desses países. Estive em Paris e realmente nota-se a diferença no “ar”, é impressionante! Parece que estamos respirando cultura, conhecimento, aí que se percebe que somos um país ainda bem “tupiniquim” mesmo. Adoro meu país e o defenderei de qualquer um que disser isso dele, mas aqui estou sendo sincera, é verdade! A gente vê o quanto ainda estamos para trás, afinal, ainda somos um país em desenvolvimento.
Daí que resolvi cismar, mas foi por acaso. Encontrei no supermercado o mesmo iogurte que consumo diariamente no meu café-da-manhã. Quer dizer, a embalagem, a marca e o nome do produto eram iguais, mas a surpresa é que o conteúdo era completamente diferente. Eu nunca havia experimentado nada igual e olha que a variedade de iogurtes nas prateleiras de nossos supermercados é considerável.
Gostaria de poder descrever o produto aqui, mas confesso que tenho dificuldades, ele tem uma consistência e uma cremosidade ímpar, acho que só é comparável a um sorvete bem cremoso, mas na temperatura e com o sabor de iogurte. Depois de passada a surpresa inicial, fiquei intrigada em saber o porquê de aqui no Brasil nossos iogurtes serem como são. Não é possível que exista um produto tão superior e que ainda não tenha chegado às nossas gôndolas!
Eu não ia deixar isso barato e resolvi provocar, escrevi um e-mail ao fabricante do iogurte querendo saber o que acontecia. Basicamente já sabia a resposta e não deu outra: disseram que os produtos são baseados na pesquisa do gosto do consumidor e que o perfil de consumo do europeu é diferente do nosso. Pensei: mas como?! Nunca tive a oportunidade de provar algo igual comprado aqui no Brasil, como eles podem saber como prefiro meu iogurte? No restante da resposta dizia que as variações do clima entre os países e a origem das matérias primas também poderiam ser responsáveis pela diferença, o que não é impossível.
Essa explicação seria até aceitável. Mas preciso de provas mais concretas que uma simples resposta a um SAC, dada por um profissional de marketing e, até que as tenha, minha opinião é que o iogurte que encontramos à venda no supermercado também é resultado do processo histórico de subdesenvolvimento ao qual passamos. O mesmo que trás para cá indústrias indesejadas pelos países desenvolvidos e que põe à venda eletrônicos com tecnologia obsoleta. Isso não acontece só com o iogurte o mesmo raciocínio serve para a cerveja, o chocolate, os vinhos, os queijos* e a maioria dos produtos, até o café de lá é melhor que o nosso.
Nem sempre foi assim, nós éramos chamados de subdesenvolvidos. Hoje este termo está em desuso, digamos que fica mais bonito classificar uma nação como país em desenvolvimento ou como país emergente, já que o termo subdesenvolvido ficou estigmatizado. Porém, retomo o termo porque não é a forma de classificar que altera uma situação, embora uma evolução no modo de pensar o mundo promova a mudança classificatória repercutindo sobre a postura política. Mas a realidade é a realidade e esse jogo de palavras serve para melhor compreendê-la, mas guiado por determinados interesses.
O subdesenvolvimento é resultado de um processo histórico específico que requer uma teorização própria uma vez que as teorias econômicas formuladas com base nas economias mais avançadas não conseguem explicá-lo. Celso Furtado foi um economista preocupado com a situação do país e por isso estudou as singularidades de nossa formação econômica e sobre este quadro formulou o que chamou de teoria do subdesenvolvimento. Para ele:
“O subdesenvolvimento é um processo histórico autônomo, que nada tem a ver com o atraso e com a estagnação. Não é uma etapa pela qual tenham passado necessariamente as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento. É uma forma de crescimento com certas características particulares, que são uma verdadeira armadilha histórica”, Furtado (2002).
Segundo Furtado, não existe uma teoria completa que explique o comportamento de uma economia subdesenvolvida porque o caminho seguido por países nessas condições foi diferente do percorrido pelos desenvolvidos. O atraso se deve a incapacidade de reproduzir o mesmo processo de industrialização dos países cêntricos. Assim, o subdesenvolvimento é resultante de um processo de dependência de um país que foi edificado com base na exportação de matérias primas e produtos agrícolas para serem beneficiados lá fora e importados agregado de valor e tecnologia, prontos para consumo. Não que seja totalmente desprovido de indústrias, o que não existe é um sistema industrial autônomo, mas sim dependente de importação tecnológica.
O resultado é uma situação particular em que os países desenvolvidos utilizam recursos naturais, mão-de-obra barata e abundante, energia a baixo custo, incentivos fiscais e subsídios governamentais dos países com industrialização tardia, transferem para estes as indústrias “pesadas”, as mais poluidoras, as obsoletas e ficam com as de “ponta”, que utilizam a mais alta tecnologia desenvolvida.
Nos anos de 1990, com a abertura do mercado brasileiro e a enxurrada de produtos importados, nossa situação melhorou muito, as opções de compra se ampliaram possibilitando um maior poder de escolha do consumidor. A entrada no país das mercadorias estrangeiras, que antes não tínhamos acesso, possibilitou uma concorrência obrigando aos fornecedores nacionais melhorem seus produtos, isto quando não foram engolidos pelas empresas transnacionais ou quebraram. Porém, nos foi dado acesso a bens mais “sofisticados” que há muito já fazia parte da cultura de consumo dos países desenvolvidos.
Assim, o resultado deste processo, na prática, é uma sensível diferença nos bens de consumo finais e em seus preços. Apesar dos avanços, o que nos chega para consumir aqui no Brasil, lá fora já é tecnologia obsoleta, considerando ainda que pagamos caro por esta tecnologia que está sendo descartada pelos outros, que além de estarem à nossa frente ainda pagam menos. Isso é sentido aqui quando vemos pessoas voltando do exterior com as malas cheias de compras, principalmente eletrônicos, podemos também citar artigos de uso mais comuns como os tênis, roupas, jeans, perfumes, etc.
Só que nos acostumamos, nosso mundinho é este, como saímos de uma situação inferior logo notamos a melhora e achamos que está bom; continuamos acreditando que os produtos importados são os melhores, que para comprar eletrônicos barato e com tecnologia de ponta só indo ao exterior. Mas estamos míopes, pois não vivenciamos a experiência de quem mora num país desenvolvido, não é por acaso que os gringos vêm aqui e saem achando que somos uma selva, que vivemos em meio a macacos (claro que muito dessa visão é por pura ignorância).
Este ano, tive a oportunidade de vivenciar como é estar num desses países. Estive em Paris e realmente nota-se a diferença no “ar”, é impressionante! Parece que estamos respirando cultura, conhecimento, aí que se percebe que somos um país ainda bem “tupiniquim” mesmo. Adoro meu país e o defenderei de qualquer um que disser isso dele, mas aqui estou sendo sincera, é verdade! A gente vê o quanto ainda estamos para trás, afinal, ainda somos um país em desenvolvimento.
Daí que resolvi cismar, mas foi por acaso. Encontrei no supermercado o mesmo iogurte que consumo diariamente no meu café-da-manhã. Quer dizer, a embalagem, a marca e o nome do produto eram iguais, mas a surpresa é que o conteúdo era completamente diferente. Eu nunca havia experimentado nada igual e olha que a variedade de iogurtes nas prateleiras de nossos supermercados é considerável.
Gostaria de poder descrever o produto aqui, mas confesso que tenho dificuldades, ele tem uma consistência e uma cremosidade ímpar, acho que só é comparável a um sorvete bem cremoso, mas na temperatura e com o sabor de iogurte. Depois de passada a surpresa inicial, fiquei intrigada em saber o porquê de aqui no Brasil nossos iogurtes serem como são. Não é possível que exista um produto tão superior e que ainda não tenha chegado às nossas gôndolas!
Eu não ia deixar isso barato e resolvi provocar, escrevi um e-mail ao fabricante do iogurte querendo saber o que acontecia. Basicamente já sabia a resposta e não deu outra: disseram que os produtos são baseados na pesquisa do gosto do consumidor e que o perfil de consumo do europeu é diferente do nosso. Pensei: mas como?! Nunca tive a oportunidade de provar algo igual comprado aqui no Brasil, como eles podem saber como prefiro meu iogurte? No restante da resposta dizia que as variações do clima entre os países e a origem das matérias primas também poderiam ser responsáveis pela diferença, o que não é impossível.
Essa explicação seria até aceitável. Mas preciso de provas mais concretas que uma simples resposta a um SAC, dada por um profissional de marketing e, até que as tenha, minha opinião é que o iogurte que encontramos à venda no supermercado também é resultado do processo histórico de subdesenvolvimento ao qual passamos. O mesmo que trás para cá indústrias indesejadas pelos países desenvolvidos e que põe à venda eletrônicos com tecnologia obsoleta. Isso não acontece só com o iogurte o mesmo raciocínio serve para a cerveja, o chocolate, os vinhos, os queijos* e a maioria dos produtos, até o café de lá é melhor que o nosso.
Fica aqui o desafio, gostaria que alguém me desse uma explicação razoável sobre a diferença entre os produtos, mas, por favor, não desafiem minha inteligência, tem que ser uma explicação melhor que a minha.
* Só pra dar um exemplo, o camembert da marca Presidente que aqui no Pão de Açúcar na promoção custa em torno de R$ 12,00 no Carrefour de Paris sai por menos de 2 Euros!!!
Obs: O iogurte, ao qual me refiro no texto, se convertido seu preço em Euro para o Real custa o mesmo.
Paris, abril de 2010, Rio Sena
Sugestões de leitura sobre o subdesenvolvimento:
FURTADO, Celso; Em Busca de um Novo Modelo: Reflexões Sobre a Crise Contemporânea, Editora Paz e Terra, São Paulo, 2002.
_________, O Mito do Desenvolvimento Econômico, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1996
_________, O Capitalismo Global, Editora Paz e Terra, 2007.
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/arlindojunior/geografia006.asp
http://educacao.uol.com.br/geografia/ult1701u65.jhtm
FURTADO, Celso; Em Busca de um Novo Modelo: Reflexões Sobre a Crise Contemporânea, Editora Paz e Terra, São Paulo, 2002.
_________, O Mito do Desenvolvimento Econômico, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1996
_________, O Capitalismo Global, Editora Paz e Terra, 2007.
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/arlindojunior/geografia006.asp
http://educacao.uol.com.br/geografia/ult1701u65.jhtm