domingo, 17 de outubro de 2010

Cinema: Polícia e Ladrão, Mocinho e Bandido

Esta é minha primeira postagem sobre cinema, estava esperando um filme relevante para comentar e nada melhor que o já tão comentado Tropa de Elite 2. O primeiro foi um fenômeno, tanto pelo número de telespectadores no cinema e quanto pelos que já o haviam visto na versão pirata, antes de sua estréia. Impressionante! O filme foi um sucesso muito antes de chegar às salas de cinema. Tudo que envolvia o primeiro serviu para elevar a expectativa pelo segundo.

Analisando de uma maneira simplória o filme se trataria de histórias sobre polícia e ladrão e curiosamente, devido ao crime de pirataria, teve que ser armado um forte esquema de segurança para preservar o filme dos bandidos que cometem este crime que se banalizou e está nas ruas presente ao lado dos “cidadãos de bem” que consomem os produtos piratas, comprados em plena luz do dia nas principais ruas de nossas cidades, à vista de quem quiser ver. Contraditório? Não. É que o mundo não é maniqueísta, então chegamos ao ponto que quero discutir aqui.

Os extremos maniqueístas não existem. É, sobretudo, disso que se trata o filme. Assim, não existem bons e maus, polícia e ladrão, direita e esquerda, certo e errado. Neste ponto que o filme se faz moderno e atual, se repararmos no cinema, felizmente, de uns tempos para cá tem nos apresentado um maior volume de filmes muito além desses dualismos, que durante muito tempo prevaleceu na telona (como os próprios filmes policiais americanos de policia que prende ladrão, os super heróis que devem vencer os vilões, incluo neste hall também os muitos sobre a guerra fria – capitalistas x socialistas). Até as versões recentes dos heróis saídos dos quadrinhos tem seus conflitos pessoais, não são perfeitos e possuem suas franquezas que devem ser vencidas junto com seus inimigos. Ou seja, o cinema se tornou mais denso e profundo, preocupado com a reflexão sobre o ser humano e sociedade em que está inserido.

Assim é o nosso Capitão Nascimento (Wagner Moura), um “herói” cheio de conflitos, que no início, e no primeiro filme, acredita no potencial da polícia (o BOPE, não de toda polícia) como solucionadora dos crimes de trafico de drogas no Rio de Janeiro, não importando os meios, por isso o símbolo da caveira com a faca enfiada claramente sugerindo: morte aos bandidos. Neste ponto começam seus conflitos, sendo tido como herói, enfrenta como contraposição à idéia de matar como método, pois, num mundo idealista, toda vida merece ser preservada e salva. Seus problemas só aumentam quando ele deixa de ser apenas policial para também exercer o papel de pai, neste ponto o herói já se desmontou se mostrando incompatível e inaceitável que gere uma vida e seja seu educador sendo quem é, um policial que tira vidas. Deste modo, é cobrado a explicar a seu filho quem ele é e o que faz.

Neste contexto, Capitão Nascimento sobe de cargo e tem mais responsabilidades, avança em seus propósitos, criando um BOPE mais forte e equipado, deixando à margem seu papel dentro da família, seu papel de pai, sua mulher agora tem outro marido e seu filho outro modelo como referência. A luta de Nascimento agora são duas, contra a criminalidade (independentemente de onde ela venha) e a reconquista de seu papel de pai em todos os sentidos.

Os bandidos traficantes, “os malvados”, são pessoas proveniente da classe baixa, pessoas que não tiveram outra oportunidade na vida, que cresceram e se educaram numa sociedade paralela existente nas favelas, onde o Estado não chega, a não ser através da violência policial, levando a questionar se são criminosos ou vítimas. Por outro lado temos a polícia e os políticos, “os bons” que devem suprir e salvar nossa sociedade, mas eles são corruptos, têm sede de poder e dinheiro; se não são a solução, mas parte do problema, o que será de nossa sociedade? Quem é mais culpado? Como combater um mecanismo que se entranhou de tal forma no sistema? No meio disso tudo está o nosso herói, o Capitão Nascimento, mas não é só isso, sobre ele também pesam seus conflitos morais.

O outro herói do filme, que tem um papel da antítese de Nascimento, é interpretado por Irandhir Santos, o Fraga, um representante dos direitos humanos, um dos responsáveis por humanizar os “bandidos” e, assim, transformá-los também em vítimas desse sistema que perpassa nossa sociedade. Sendo assim, como opositor a Nascimento, passa a ser o modelo moral a seu filho. Mais tarde se elege Deputado Federal e passa denunciar seus pares. Como fica bem claro, desde o filme anterior, não existem bons nem maus, mocinhos e nem bandidos, cada um tem o seu drama, Nascimento e Fraga descobrem que têm inimigos comuns.

Tropa de Elite 2, então, é um filme sobre nós mesmos, nossa sociedade, traz a tona uma reflexão sobre como estamos vivendo, sobre quem somos, em quem nós votamos, quem nos protege e sobre nossa moral. Ao entrarmos no cinema vale a pena pensarmos qual o nosso papel dentro do roteiro apresentado.

Outro filme em cartaz que vale a pena conferir é Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme. Também é um filme que escapa a clichês antigos, ele revela um pouco de como funciona a roda financeira, porém, mais do que isso, é um filme sobre pessoas e também sua moral, sobre o que é importante e no fim percebemos que a especulação financeira nada mais é que um reflexo de nossas ambições, de nossa necessidade de poder. É um filme detalhista, no qual, mínimos detalhes nas cenas revelam muito do ser humano e sobre o sentimento das personagens. Mais que um filme sobre o dinheiro é um filme sobre nós mesmo


Site Oficial:

http://www.tropa2.com.br/

http://www.tropadeeliteofilme.com.br/


Para Saber mais:

http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7601&id_filme=7408&aba=critica

http://cinema.uol.com.br/ultnot/2010/09/15/jose-padilha-usou-policiais-paulistas-para-evitar-pirataria-de-tropa-de-elite-2.jhtm

http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/policia+e+politicos+sao+os+alvos+em+tropa+de+elite+2/n1237792467772.html

http://www.cinepop.com.br/criticas/tropadeelite2_101.htm

http://www.cartacapital.com.br/cultura/um-heroi-classe-media-2

http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx?edicao=2186&pg=126

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/05/oliver-stone-leva-colapso-de-wall-street-cannes.html

http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/174357/wall-street-2-o-dinheiro-nunca-dorme-2/

http://cinema.cineclick.uol.com.br/criticas/ficha/filme/wall-street-o-dinheiro-nunca-dorme/id/2473

http://www.wallstreetfilme.com.br/



domingo, 10 de outubro de 2010

Atualidade: Tocantins em Chamas

Por falta de tempo só estou postando sobre este assunto hoje. Mês passado estive conhecendo o Estado do Tocantins, fui à Palmas, ao Jalapão e numa fazenda nas redondezas da Ilha do Bananal. Infelizmente, neste período, como foi noticiado em todos os jornais, ocorreram muitos incêndios, não só no Tocantins como no Mato Grosso. Sejam eles criminosos ou não, o fato é que nosso Brasil continua ainda muito abandonado à própria sorte.

Infelizmente as políticas públicas para os parques nacionais estão bem aquém do que realmente nosso majestoso país merece. Estava caminhando numa trilha que leva até a Cachoeira do Roncador, nas imediações de Palmas, e cruzei com vários focos queimando na pouca a mata que ainda restava, na volta me deparei com bombeiros exaustos pelo trabalho ingrato.

Um deles me olhou e naquela fração de segundos entendi que aquele punhado de homens estava trabalhando exaustivamente num território sem tamanho, lutando contra uma força muito maior que suas forças e que apesar de cansados, de terem virado noites e feito o melhor de si, tudo estava destruído, consumido pelo fogo. Seu trabalho muito contribuiu para que situação não fosse ainda mais devastadora, mas quem estava lá viu o tamanho do estrago, os campos estavam queimados até muito além de onde a vista conseguia alcançar.

É uma pena que ainda não tenhamos políticas públicas que minimizem os incêndios. Precisamos de mais homens para combater o fogo, precisamos de homens que não sejam contratados temporariamente e demitidos nos períodos em que não acontecem os incêndios, precisamos educar a população e precisamos de mais recursos para o combate aos incêndios.

Quem esteve lá viu o quão pequenos e impotente somos diante de um fogo que queima em fração de segundos quantidades territoriais a perder de vista. Nosso Brasil precisa de mais cuidados e mais atenção.

Abaixo seguem umas fotos que tirei das chamas consumindo o Brasil.



Cachoeira do Taquaruçu

Trilha para Cachoeira do Roncador com foco de incêndio no pouco de mata que restou 

Bombeiros impotentes, exasustos e em quantidade insuficiente

Parque Nacional do Jalapão, paisagem desoladora 

Jalapão devorado pelas chamas 

O fogo avança muito além do que a vista alcança 

Na imensidão territorial do Parque Nacional do Jalapão o fogo é visto à distância 

Ao longe podemos ver o fogo devorando tudo

Notícias sobre os incêndios:








domingo, 3 de outubro de 2010

Questione: Pasteurização Política nas Eleições

O ato de votar é imprescindível para a formação do estado democrático, que apesar de ser obrigatório, é um direito de cada cidadão. Muitos acreditam que o voto deveria ser facultativo. Talvez devesse, esta é uma questão que merece discussão. A minha opinião é que continue sendo obrigatório, o que garante que todos seremos ouvidos. Penso assim porque duvido da maturidade política do Brasil e com isto não sei se ao deixar a cargo de nossos cidadãos a decisão de votar ou não estaremos correndo o risco de elegermos políticos sem representatividade. Além de que, lutamos muito para conquistar este direito para ficarmos à margem das eleições como se não nos dissesse respeito, como se não tivéssemos nada com isso, não podemos simplesmente lavar as mãos.

Apesar disto, sem hipocrisia, eu confesso que não votei. Não voto na cidade em que moro e devido a um compromisso não pude ir votar, coisa que sempre fiz questão e nunca havia deixado de votar, pelo menos para presidente. Porém, não foi só o compromisso que não me fez ir votar, isso foi apenas um subterfúgio que utilizei para escapar à tarefa de escolher qual candidato eu gostaria que fosse eleito para me representar. Para mim esta decisão se tornou muito difícil devido à crença numa crescente pasteurização na política brasileira que culminou nas atuais eleições.

Estas eleições já me preocupavam já há alguns anos, o Brasil se encontra num momento político, tanto no cenário interno como no internacional, muito bom. Apesar disso, está muito longe de resolvermos nossos problemas e temos um longo caminho ainda a percorrer para que sejamos um país justo, democrático, que atenda as necessidades da sociedade, com instituições sólidas, que tenha uma posição relevante e com influência decisória nas políticas internacionais. Contudo, nos últimos anos temos visto avanços importantes e não podemos pensar em regredir em conquistas importantes.

A pasteurização ocorrida produziu candidatos pouco diferenciados, não existem mais ideologias, programas de governo, correntes políticas divergentes e não há debates sobre forma de se governar. Claro que estou generalizando, temos uns que se dizem socialistas, outros defensores do verde, sociais democratas, os que estão com os trabalhadores, etc. Mas, quais são suas propostas na pratica? O que farão e o que estão dizendo de diferente uns dos outros? Qual a diferença ideológica?

A pasteurização se reflete na prática em falta de coerência, poucos mencionam seus partidos; aberrações se tornam evidentes como Lula e Sarney juntos, Lula apoiando Collor; a candidata do PT tem como vice um representante do PMDB, partido este que há várias eleições não apresenta um candidato à presidente, preferindo ficar ao lado da situação, continuando a ser um partido grande elegendo muitos representantes como governadores e deputados, com isto mantendo uma boa base e se perpetuando no poder; outras aberrações como Lula ao lado de bispos da Universal que antes bradavam em seus cultos que ele era o demônio; candidatos bizarros, como Tiririca, eleitos como voto de protesto resultado da falta de confiança da população nas opções disponíveis; e pior, candidatos envolvidos em escândalos freqüentes que nunca são cassados e proibidos de se elegerem, pagarem por seus atos, então, nem pensar, estes estão aí cheios de votos e são os que sempre se elegem.

Não fui votar porque, sinceramente, não queria nenhuma das opções como meus representantes. Os oito anos de governo Lula me agradaram, foi longe de ser ideal, tenho inúmeras críticas, mas apesar disso não tenho vontade de votar em sua candidata, a figura dela não me agrada, Lula podia bem ter escolhido melhor um candidato para lhe suceder. Nem ela nem as outras opções, me vejo sem escolha, fugi de ir votar. Não existem propostas e conteúdo em que votar, não vejo prós nos candidatos, só contras. Os debates são estéreis, preenchidos por frases e clichês ensaiados, todos muito bem treinados por seus marketeiros com fases politicamente corretas, dizendo o que se acredita ser o que o povo quer ouvir e enfatizando qualidades que seriam suficientes para suprimir seus pontos fracos: Dilma sempre insistindo que tem experiência e que fez o que fez junto com Lula; Serra apostando sempre em sua experiência e batendo na mesma tecla, a da saúde, não podemos esquecer, e ele não deixa, que foi Ministro da Saúde, mas apesar de pequenas concessões que defende ter feito não vemos melhorias reais nesse setor, continua tão deficiente quanto sempre foi; e Marina com sua bandeira ecológica e suas frases bonitinhas, politicamente corretas e vazias de conteúdo, tentando nos convencer de que conseguirá governar sem apoio, no entanto, Plínio num debate dá um banho nela na questão ambiental.

Na falta de um debate sério, na falta de conteúdo, a solução parece que é a velha formula de criar escândalos na véspera das eleições e nesta não vimos nada diferente. Primeiro tentaram nos enfiar um dossiê goela abaixo, não colou; partiram para a quebra de privacidade na Receita Federal, até agora fiquei sem entender que interesse eleitoral Dilma teria na declaração do Imposto de Renda (IR) da filha do Serra e no do ex-Ministro Mendonça de Barros, até onde sei se quiser descobrir coisas ilegais de alguém não será na declaração do IR, parece que esta estratégia não deu resultado positivo, então, veio o escândalo da Casa Civil. Ficou parecendo desespero por uma eleição que, segundo as pesquisas, caminhava para terminar no primeiro turno. As campanhas ficaram tensas, pesadas, desesperadas, então, Serra para mostrar uma imagem mais leve, como se quisesse espantar o desespero, suas últimas edições do programa eleitoral, na televisão, passaram a conter o candidato em forma de desenho animado, bonequinhos de fantoche, quase infantis, cantando musiquinhas leves e sua presença constante acompanhando da família, com sua filha e seus netinhos. Não se falou mais nos escândalos, não na véspera da eleição, a esta altura a tática havia mudado, Serra não era mais visto no JN, horário nobre, bradando a culpa de Dilma, culpa esta que não foi comprovada.

O resultado está aí, os votos foram computados, sobraram dois candidatos, retomemos aos debates e a campanha, vamos aguardar agora o tom do segundo turno, as coligações (coerentes ou não), velhas promessas, repetidas receitas de escândalos, prestem atenção no conteúdo dos discursos como são estéreis, preenchidos por frases feitas; só não esperem por idéias e debates consistentes. Por mim posso dizer uma coisa, apesar de toda esta esterilidade, não posso fazer o mesmo com minhas convicções, hoje quando fui justificar o voto bateu uma crise de consciência por não estar cumprindo o papel que me cabe nas eleições, parece que também terei uma segunda chance, no segundo turno faço questão de ir votar.


Para saber mais:

Tribunal Superior Eleitoral:

Resultados:

Especial G1 sobre as eleições:

Folha especial eleições:

Livro:
Coronelismo, Enxada e Voto – Victor Nunes Leal