quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cinema: A História Que o Herói de Argo Quer Nos Contar

Cinema é uma linguagem de comunicação mágica capaz de nos envolver de tal modo que as emoções vividas na tela são projetadas em nossos sentimentos, provocando sensações que marcam cada um de forma particular. Ao assistirmos um filme, assimilamos a experiência vivida naquela sala escura e por isso o cinema é uma arte poderosa, fonte de entretenimento, mas também capaz de influenciar as pessoas de muitas maneiras.

O último filme que assisti tem um final apoteótico: um grupo de pessoas está em perigo e precisa escapar de uma situação que pode lhes custar a vida, tudo leva a um final trágico. Entre eles há um cujo trabalho é justamente resgatar pessoas de situações difíceis como esta, o nosso herói do filme, e ele executa seu plano que necessita de uma combinação de coisas para dar certo, mas a qualquer momento podem ser descobertos e capturados. A sequencia final passa por um continuo frenético de situações tensas que culminará na fuga ou na morte, mas eles se salvam, todos comemoram, se abraçam, a informação de que estão salvos se propaga e há comemoração em outros locais onde também aguardavam o desenrolar. Muita gente comemorando, se abraçando e os heróis, no fim, são premiados com medalhas e troféus. Quem já não assistiu a um filme assim? Conseguem imaginar de qual estou falando?

Já perdi as contas de quantos vi que se encaixariam nesta descrição, o que muda é sempre o malvado da história, por vezes são os comunistas, ou extraterrestres, podem ser os terroristas, só os mocinhos são os mesmos, os americanos, ele pode ser um cara comum, um policial, um bombeiro, um agente da CIA ou o próprio presidente. Esse tipo de filme, geralmente, tem um objetivo escondido por trás da história que é atribuir a noção de que existem bons e maus, que os americanos estão do lado bom e irão salvar a todos e do outro lado está o inimigo malvado, implacável, aterrorizante, destruidor que vai acabar com nossa vida ou com o mundo como o conhecemos.

O filme especificamente do qual estou falando é Argo, de Ben Affleck. Li uma matéria que dizia que ele gostaria de tirar de si o estereótipo do mocinho de filme de ação que o marcou por Armageddon. Argo tem boas críticas, é elogiado e realmente muito bem feito, mas tenho minhas dúvidas da diferença dele para um outro filme de mocinho e bandido que o ator já tenha feito em sua carreira, a não ser pelo fato desse ser baseado em uma história real e não simplesmente extraído da pura ficção. Tenho que concordar que o filme é muito bem caracterizado, a reprodução de algumas imagens e acontecimentos impressiona, quem for ver não se levante da cadeira antes da hora que vão mostrar as imagens verdadeiras em contraposição com as feitas para o filme.

No filme, Bem Affleck é o agente da CIA Tony Mendez que se infiltra no Irã para salvar alguns funcionários que fugiram da embaixada americana em Teerã durante a sua invasão após a Revolução Iraniana de 1979, enquanto os outros funcionários eram feitos reféns, mantidos sob cárcere durante 444 dias. Portanto, ele é o mocinho americano que salvará quem está em perigo dos malvados iranianos islâmicos fanático.

Eu vejo este filme com um viés totalmente político. Hoje, os inimigos não são mais os comunistas, mas os terroristas, principalmente se forem mulçumanos. Convenientemente este filme foi rodado enquanto está em jogo a questão nuclear iraniana, o governo norte-americano não admite o direito do Irã desenvolver um programa nuclear para fins pacíficos e o acusa de estar desenvolvendo o programa para fins militares, embora o Irã tenha assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), ter aceitado as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica e nada ter sido provado. Aliado a isso tem Israel, que é inimigo público declarado do Irã e o ameaça de invasão se não parar imediatamente seu programa nuclear. Vale ressaltar que Israel não é signatário do TNP e conhecidamente possui armas nucleares, mas o nega, mesmo contra as evidências, além de receber três bilhões de dólares dos EUA por ano em financiamento militar e ter um fortíssimo lobby que pressiona os EUA a tomar posições favoráveis a ele. Esse lobby é feito por instituições como a AIPAC que se auto declara em sua home page “America’s pró Israel lobby”, que dentre outras ações, atua dando dinheiro para as campanhas presidenciais americanas. Outras formas conhecidas de lobby são através do convencimento da opinião pública através da mídia, cinema, eu diria até livros, best sellers. Com todos estes indícios é de se suspeitar que o filme tenha esta intenção.

O filme trás o expectador para dentro da história, o coloca no contexto e tenta criar uma afinidade entre eles e as vítimas, os funcionários reféns, através de closes em seus rostos com suas expressões faciais e contando um pouco de sua história. Já os iranianos não tem o rosto mostrado em detalhes, somente poucas vezes quando estão executando más ações e como parte do clímax final (quem ver o filme entenderá a necessidade disso para a sequência perigosa pela qual os personagens passam a caminho da libertação), mas ao longo de todo filme eles são mostrados como uma massa histérica, enlouquecida e fanática, eles tem de parecer bem malvados. Em uma das sequências, após descreverem quem são cada um dos funcionários americanos que devem ser salvos, alguns agentes da CIA fazem uma referência aos iranianos, com uma frase encaixada no roteiro, depreciando-os dizendo que se tiverem a mínima capacidade de fazer uma conta simples logo darão falta dos funcionários fugitivos. Os únicos iranianos que tem realmente alguma característica mostrada é a governanta da casa do embaixador canadense porque dá uma pequena contribuição à fuga das vítimas e o Xá deposto Reza Pahlevi, motivo da crise dos reféns, o qual é referido por mais de uma vez como um velho coitado com câncer.

O Irã tem uma rica história de mais de três mil anos, já foi um grande império, teve governantes cujos nomes ainda reverberam na história, é um dos berços da civilização que hoje conhecemos, mas também tem uma triste história de dominação e exploração pelo imperialismo das grandes potências e nem uma parte disso é mostrado no filme. O Irã é um país de cultura complexa, de um povo culto e nada além de uns pequenos fragmentos de sua história que não dão conta de mostrar quem é este país é apresentado no filme. A colagem de cenas da revolução que perpassam todo o filme não vem acompanhadas de seu contexto e isoladas, sem a história por trás, fora do acontecimento real só reforçam a imagem estereotipa do iraniano fanático que se quer que acredite povoar aquele país. O que o Irã quer e está exigindo com aquela revolução do filme, com outras que aconteceram antes e com a insistência em seu programa nuclear atual é ter o direito, mais do que justo, de decidirem por si só o seu próprio destino e o modelo que querem adotar para governar suas vidas, isso se chama autodeterminação de um povo.

Os norte-americanos gostam de propagar a crença de que são um país livre e democrático, mas não admitem que se pense diferente, para os EUA a liberdade vai até onde eles determinam que seja a forma correta de pensar e viver, se não for de seu modo são malvados, são inimigos a serem combatidos. Com os comunistas foi assim, eles tinham um modo diferente de se autogovernar e isso era inadmissível, contra Cuba foi assim, uma pequena ilha que até hoje é tida como inimiga e com o Irã estão fazendo o mesmo. Mas eles vão lutar pelo seu direito de pertencer ao grupo dos não alinhados e pelo direito a sua autodeterminação, mesmo que a mídia ocidental os demonize, mesmo que façam filmes, mesmo que lhe imponham sanções e mesmo que quando formos ao cinema, que no final torçamos pelos mocinhos americanos de Argo e que eles venham a ganhar mais um troféu, o Oscar.


Para Saber mais:

Livro: Todos os Homens do Xá: o Golpe Norte-Americano no Irã e as Raízes do Terror no Oriente Médio – Stephen Kinzer

Livro: As Mil e Uma Noites Mal Dormidas: a Formação da República Islâmica do Irã - Murilo Sebe Bom Meihy

Livro: O Mundo Muçulmano – Peter Demont










sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Que Vejo Por Aí


Privatizaram Até o Mascote da Copa

16 de novembro de 2012 - Tatu-Bola na Estação Carioca no Rio de Janeiro

Segundo o site da Fifa, o mascote da Copa desempenha um importante papel de embaixador. Como tal, ele deve ser escolhido para representar o nosso país, possuindo características de nossa cultura e para tanto costuma-se usar um animal da fauna nacional. Para nossa Copa de 2014 foi escolhido o tatu-bola, um bichinho existente exclusivamente em nosso território e com a curiosa capacidade de se dobrar e transformar numa bola, mas isso o deixa exposto a caçadores entrando na lista de animais em extinção. Assim, nosso tatu-bola também vem carregando a bandeira da preservação ambiental tão em voga na atualidade.

Uma pena que a Fifa não respeite a nossa opinião. Nós, os anfitriões da festa, nos simpatizamos com o mascote, mas não com as opções que foram dadas para a escolha de seu nome, mas parece que isso é irrevogável, mesmo que discordemos que os nomes propostos não representem sua identidade.

Por falar em identidade, o mascote, como embaixador de nossa Copa, se torna um dos símbolos desta competição, representando a nacionalidade de nosso país, portanto, considero um crime a privatização de um símbolo que deveria vincular a competição à características próprias brasileiras. Deste modo, o que tem sido visto por aí é uma aberração, há um comercial do camarote do mascote exibido na televisão e bonecos infláveis espalhados por diversas cidades usando uma camisa vermelha escrito Coca-Cola, refrigerante estrangeiro que nada tem haver com a nossa identidade e, assim, de modo algum poderia estar associado a uma simbologia que deveria representar nossa nação e a nossa cultura. Fazer isso é o mesmo que esculpíssemos no manto do Cristo Redentor uma marca externa ou que tivéssemos escolhido o urso polar como mascote no lugar do tatuzinho.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Esporte: Sobre Penaltys Inventados, Gols Legítimos Anulados e Finais de Campeonatos

Eu não gosto de campeonato sem final. Para mim, campeonato que se preze tem que ter uma final. Tenho a impressão de que a maioria das pessoas não concorda com esta minha opinião, dizem que pontos corridos é mais justo, mas continuo firme na minha posição que nada é mais emocionante do que dois times entrando em campo disputando um contra o outro quem será o campeão. Entre a frieza da justiça e a explosão da emoção de uma partida vencida derrotando o derrotado, fico com a segunda opção.

Não que o Brasileirão deste ano não tenha sido emocionante, mas chegou ao fim sem ter acabado. A imprensa está tentando nos convencer de que tem muito ainda em jogo, pois eu digo que acabou. Faltando três rodadas para o final e está acabado, disputa para ver quem não cai ou uma última vaga na Libertadores é acessório, não é para isso que os campeonatos são disputados, os times entram em campo é pela taça, pelo título, para gritar “é Campeão”!!!!

Bem que tentaram prorrogar o inadiável, mas já estava mais do que claro quem ia levar este título, uma semana a mais uma a menos o campeão já estava consagrado. Não adiantaram mais uma vez fazer manobras para cima do Vasco, sempre o Vasco. Tivemos um gol legítimo anulado, qual foi a justificativa mesmo? Ah... Algum jogador parece que gritou em campo para o outro? Bela explicação! Alguém que não seja atleticano aí se convenceu? Poderia até ter sido um ato isolado, mas foi mais do mesmo, o de sempre. Não bastou, foi preciso dar um penalty inexistente, não adiantou. O Vasco empatou e o Fluminense fez um gol com seu artilheiro para não adiar o que já parecia mais do que certo.

Voltando um pouco no tempo, o último Campeonato Brasileiro que teve uma final foi o de 2002, naquele ano a regra dizia que os oito primeiros colocados iriam para a próxima fase, as quartas de final, que definiria quatro times para as semifinais e então os dois melhores jogariam a grande e última final que um Brasileirão iria ver: dois times, um contra o outro, quem vencesse sairia campeão, sem precisar de combinação de resultados, só dependendo dos seus jogadores em campo. Naquele ano, o Santos vinha numa ascensão enquanto o campeonato se aproximava de suas fases finais e se classificou em oitavo, o último a conquistar o direito de continuar na disputa pelo título, São Paulo se classificou em primeiro, São Caetano em Segundo, Corinthians em terceiro, etc. A final foi disputada entre Santos e Corinthians e o título ficou com a equipe de Robinho que inventou a jogada que ficou conhecida como “pedalada” no segundo jogo da final.

No ano seguinte, tudo acabado, foi instituído o campeonato dos pontos corridos dito mais justo. Para mim estava claro, dado à veemência das discussões que seguiram a vitória do time da Vila Belmiro, muita gente não se conformava que o time que se classificou em oitavo ficasse com a taça e o Corinthians, sempre ele, fosse vice. Mas o que seria um campeonato mais justo? Talvez o de 2009, quando o Flamengo jogava contra o Grêmio na última rodada e precisava da vitória porque o Internacional seria o campeão se vencesse. Justo quem? O maior rival do Grêmio, alguém acredita que havia alguma chance do time de Porto Alegre vencer a partida e deixar o título para o Colorado que fez o dever de casa e venceu a sua partida contra o Santo André por 4 x1? Podem dizer o que quiser, mas eu vi aquele jogo, vi o Grêmio jogar muito no primeiro tempo e depois, como quem se dá conta e lembrando de quem ia ficar com a taça, pararam em campo, não jogaram mais bola e ainda assim o Flamengo teve dificuldade de virar aquele jogo. Queria ver se a final fosse entre Inter e Flamengo, isso sim seria um campeonato justo!

E o que dizer do Brasileirão de 2011? Podem dizer que é choro de perdedor, não ligo já que a história é contada pelos vencedores. Mas é fato, nos últimos tempos há um favorecimento explicito do Corinthians, são muitas as manobras para levar o time a conquistas fictícias de campeonatos e por traz tem muitos interesses. É muito claro que o Vasco deveria ter sido o campeão de 2001, basta fazer uma pesquisa simples na internet para saber, são “erros” e mais “erros” de arbitragem. Por que na dúvida os árbitros sempre marcaram contra o Vasco? Mais do mesmo, tantas e repetidas vezes não são coincidências.

E o que não dizer do gol anulado do Vasco contra o Corinthians, não estou falando daquele do returno do Brasileirão de 2011 que o jogo terminou 2 x 2, mas do embate seguinte, pela Libertadores que terminou em 0 x 0. Era um lance muito difícil, o assistente poderia muito bem se enganar, afinal ele não tem recursos eletrônicos, replay, tira-teima, o que me preocupa é a necessidade da Globo em manipular o tira-teima, para nos convencer. Podia ter simplesmente dito que o juiz errou, não ia fazer a menor diferença, o jogo não ia voltar atrás, mas por que da insistência com a manipulação da bolinha de papel, ops... quero dizer do tira-teima? E ainda tenho que ouvir dizerem que o Corinthians foi campeão invicto! Claro! Gol contra o Corinthians não vale! O juiz anula, é jogada ilegal. Assim é fácil ser invicto e ganhar campeonatos. Não vou me estender, mas não poderia deixar de citar a construção de um estádio inteirinho com direito a infraestrutura no entorno, como metrô, que o time vai ganhar e com que dinheiro será construído este estádio? O público! Agora ninguém mais vai poder fazer bullyng contra o Corinthians dizendo que eles não têm estádio e nem Libertadores.

Voltando ao fim do Campeonato Brasileiro de 2012 que já acabou, parabenizo o Fluminense que está jogando muito e que foi tetracampeão. Agora é justo que assistamos três rodadas de jogos para cumprir tabela, a gente não gosta mesmo de assistir à finais de campeonatos, mas tudo em nome da “justiça”.



Para saber mais: