Está ao vivo na TV, no horário, que nos meus tempos de infância, costumava-se passar filmes de capa e espada na Sessão da Tarde. Mais uma vez a violência invade as ruas do Rio de Janeiro e a sala de nossa casa.
A situação tomou tal dimensão que as pessoas não entendem o porquê de não ter um helicóptero da polícia metralhando os bandidos em fuga no morro lá em baixo. Tento imaginar uma cena de tiro ao alvo acertando em cheio e derrubando um a um que desorientadamente tentam fugir. Não posso, também, deixar de me lembrar da cena em que o Capitão Nascimento é aplaudido em um restaurante por ter matado um criminoso diante das câmeras.
Mas, o que está acontecendo? Que sociedade é esta, a nossa? Como foi que deixamos chegar a este ponto? Como podemos viver assim? Seria o choque das civilizações ou a luta de classes?
O cientista político norte-americano Samuel P. Huntington propôs esta teoria do choque das civilizações para explicar o mundo atual, pós-Guerra Fria, segundo a qual a cultura e a religião dos diferentes povos seriam as responsáveis para criar os conflitos modernos. Esta teoria nem de longe explica toda a dinâmica social atual, mas facilita o entendimento sobre algumas questões da sociedade.
Quando estamos diante desta série de ataques que vem sido cometidos no Rio, sabemos ser feitos por criminosos do tráfico que vivem em favelas e estão diretamente relacionados com a tentativa do atual governo em desarticulá-los através da instalação das UPPs - Unidades de Polícia Pacificadora – nas favelas. Numa primeira vista isso parece ser um caso de polícia, porém existem questões mais profundas aí envolvidas.
Sendo assim, não deixo de pensar que isto é um caso de choque de civilizações. Não no sentido que Huntington propôs, entre nações diferentes, mas entre duas culturas díspares, a cidade organizada gerida por um Estado e a desordem das favelas, um mundo de excluídos, local onde o Estado nunca ou quase nunca chega, abrindo caminho para ser dominada pelo poder paralelo que tem uma lógica própria geradora de uma carga cultural nos indivíduos que lá vivem, deste modo, se tornando quase inatingível à nossa ótica, de nossa visão etnocêntrica.
Assim, estamos lidando com uma cultura gerada pela separação entre classes, a luta de classes, teoria desenvolvida por Marx para explicar o capitalismo. Esta não é apenas uma questão de polícia, é também de inclusão social, geração de oportunidades, educação, com o intuito de gerar de uma sociedade mais igualitária, pois é justamente o gigantesco fosso existente entre a favela e o asfalto que gera este caos absurdo que hoje estamos perplexos assistindo ao vivo pela TV.
Deste ponto para onde convergimos, culminando com os ataques ao Rio de Janeiro, o que mais podemos fazer? Colocar toda força policial que dispormos é o mínimo a ser feito diante de uma população acuada e aterrorizada, além disso, pedir reforços para a caçada aos criminosos. Será a luta entre a cidade organizada e amedrontada e a favela enfurecida, enquanto diante da TV torcemos para que a polícia mate os bandidos que estão correndo em bando e se escondendo no mato.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/11/bope-domina-favela-vila-cruzeiro-apos-acao-com-blindados.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/fotos/2010/11/veja-fotos-dos-carros-incendiados-no-rio.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/11/confira-videos-dos-ataques-no-rio-de-janeiro.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/11/assustados-moradores-da-vila-cruzeiro-decidem-nao-voltar-para-casa.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/11/eu-me-sinto-prisioneira-diz-moradora-vizinha-vila-cruzeiro.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/11/mais-de-100-onibus-estao-sem-circular-na-regiao-da-vila-cruzeiro.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Choque_de_civiliza%C3%A7%C3%B5es
http://www.domtotal.com/especiais/detalhes.php?espId=693
Parabéns pela visão! Um dos poucos que tiveram a coragem de sintetizar a situação. Acrescento: a polícia, nas sombras, age de outra forma. Entretanto, com a transmissão ao vivo, da fuga, alguém preferiu ordenar não agir!
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