quarta-feira, 13 de junho de 2012

Atualidade: Objetivos da Rio + 20


Durante toda existência humana temos procurado formas de sobreviver de modo que possamos suprir nossas necessidades com o maior conforto possível. Entretanto, sempre tivemos que trabalhar duro usando a energia dos nossos músculos para caçar, arar, colher e construir. Somente a partir da revolução industrial foi possível desenvolver tecnologia para obter um conforto jamais visto, porém, os avanços alcançados não chegaram para todos e muitos continuam vivendo privados de recursos, sem os alimentos necessários à vida e o conforto alcançado por parte da civilização. Por outro lado, a parte de nós que conseguiu uma vida melhor, nunca necessitou tanto de coisas, que, por sua vez, necessitam dos recursos do planeta para serem produzidas, e nunca, em toda nossa existência, fomos tantos em número sobre a face da Terra como agora.

Portanto, o surgimento do sistema capitalista e atual modo de vida ocidental provocaram uma pressão pelos recursos naturais do planeta nunca visto em nenhuma outra época, ou seja, apenas no curto período do último século, nosso estilo de vida foi responsável pela degradação ambiental que está pondo em risco nossa sobrevivência.

A Eco 92, que foi considerada a mais importante conferência realizada até hoje, é um marco de referência nas ações em prol da sustentabilidade mundial, porém a constatação é de que ainda há muito que se fazer. Tendo passados 20 anos após a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, que foi o ponto de partida das conferências posteriores sobre o ambiente e resultou numa série de documentos importantes, como a Agenda 21, também estabeleceu critérios e metas a se cumprir em prol de um futuro mais sustentável. Hoje inicia-se a Rio + 20, com o objetivo de renovar o comprometimento político com o desenvolvimento sustentável e definir novos desafios representantes do mundo inteiro estarão reunidos; apresenta-se como uma oportunidade para um balanço sobre os 20 anos decorridos desde então como forma de se avaliar o que tem sido feito.

Os temas em foco na conferência são: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. Ou seja, para haver sustentabilidade é preciso equilíbrio entre desempenho econômico, objetivos sociais e ambientais.

Porém, o que temos de concreto são as incertezas, falta de consenso e pouca expectativa de que o documento final da Rio + 20 estipule metas ambiciosas. É provável que as negociações não se encerram ao longo dos três dias de reunião preparatória do documento final. O Brasil defende o fortalecimento de princípios acordados há 20 anos e que não haja retrocessos em pontos conquistados na Eco-92.

Contudo, atentando para o grande interesse populacional em participar, este evento é uma oportunidade para reavaliarmos nosso próprio comportamento e uma avaliação da sociedade que queremos, estimulando que repensemos nossa forma de agir, o que estamos consumindo, nossas reais necessidades, nossos hábitos, nossa posição na sociedade e a imagem que queremos ter. Esta é uma oportunidade única que temos para, não só nos pensarmos como indivíduos, mas para uma profunda reflexão sobre a civilização que estamos construindo e sobre o tipo de sociedade que queremos para nosso futuro.

Para tanto, existem muitos eventos paralelos em torno da discussão principal entre os representantes políticos enviados por seus países. Estes eventos, como a Cúpula dos Povos, a Humanidade 2012 e a TED Rio + 20 são uma oportunidade para que todos possamos participar e contribuir. Então, quando a Conferência chegar ao fim, todos poderão retornar às suas casas, aos seus países sem esquecer as lições e o aprendizado pelo qual passaram e tentar modificar o seu dia a dia e o dos que estão à sua volta.


Referências:

http://www.rio20.info/2012/objetivos-e-temas

http://www.rio20.info/2012/economia-verde

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/esperar-rio-20-618719.shtml

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/rio-20-comeca-hoje-com-falta-de-consenso

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/texto-da-rio-20-sera-discutido-ate-o-ultimo-minuto

http://essetalmeioambiente.com/rio-20-objetivos-deles-e-preocupacoes-nossas/

http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/05/veja-mapa-com-locais-que-vao-sediar-eventos-da-rio20.html

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Questione: Consumo, Gisele Bündchen, Mudanças e Outras Reflexões Sobre a Sustentabilidade

 A Rio + 20 iniciará na próxima semana, ocorrerá nos dias 13 a 22 de junho, mas diversas atividades já estão acontecendo por toda a cidade. Ontem terminou, na Quinta da Boa Vista, o Green Nation Fest, um festival interativo e sensorial que buscou estimular o público a agir por um mundo mais sustentável, tratando das questões ambientais de maneira descontraída, usando cinema, educação, esporte e moda para abordar o assunto. Nele esteve presente a modelo brasileira e embaixadora de Boa Vontade das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Gisele Bündchen, que plantou uma árvore para promover o Dia Mundial do Meio Ambiente.

O engajamento de Gisele não vem de hoje, em seu site oficial faz campanhas para o ambiente dando dicas sobre pequenas coisas para se fazer no dia-a-dia como usar as escadas para subir até dois andares, participar da Coleta Seletiva, evitar usar sacolas plásticas, cozinhar na panela de pressão, pagar suas contas online, entre outras e também divulga iniciativas como o Projeto Água Limpa*, Florestas do Futuro**, WWF - Nascentes do Brasil***, etc.

Portanto, não basta participarmos de uma ação isolada como a “Hora do Planeta”, promovida pela WWF, quando se marca data e hora para apagarmos a luz do local onde estivermos, isso serve para criarmos consciência, mas são atitudes diárias e permanentes que ao incorporarmos em nossos hábitos que farão a diferença como tomar banhos todos os dias menos demorados, com a separação seletiva do lixo, trocar as lâmpadas incandescente por outras mais econômicas, apagarmos as luzes de ambientes que não estão sendo usados, diminuirmos a quantidade de sacos plásticos, recolhermos nosso lixo das praias, não jogarmos lixo nos rios, entre muitos outros hábitos que somados poderão mudar a face do problema.

É evidente que uma mudança cultural está em marcha e ela trará uma mudança no comportamento das pessoas, o difícil é medir o quanto isso será efetivo. Porém, muita da responsabilidade está sendo jogada para cima do comportamento individual, do consumismo e do desperdício que tomou conta de nossa sociedade capitalista ocidental e é claro que cada um de nós tem sua parcela nessa culpa. Estamos diante de um momento singular da trajetória humana na Terra, o qual nos direciona para uma reflexão a respeito da sociedade industrial contemporânea e seus impactos sobre o meio ambiente nas diversas escalas sociais. O modo como a sociedade está lidando e o rumo que dará à questão ecológica será imprescindível para determinar o futuro daqui por diante.

Estamos presenciando uma crise generalizada e global não somente econômica, ecológica ou social, mais que isso, é uma crise do próprio sentido da vida e de nossa sobrevivência como espécie, é também uma crise de nossa forma de pensar e agir no mundo. Sobreviveremos na medida em que formos capazes de construir uma nova racionalidade ambiental para responder aos desafios presentes. A solução não será fácil, não será individual, não virá dos governos e órgãos internacionais, não será única, pois passa por diversas dimensões: física, econômica, cultural, tecnológica, biológica e principalmente humana. Precisamos, com todos os nossos recursos, em conjunto com todas as nossas sociedades e com toda tecnologia que dispusermos, enfrentar o problema em busca de uma sustentabilidade que garanta nossa existência e das gerações futuras.

O que nos trouxe a esta situação foi nosso estilo de vida determinado pelo sistema capitalista que exige um padrão de consumo para se auto-alimentar e que, por outro lado, nos garante um bem-estar jamais desfrutado pela humanidade, contudo, somente sendo possível porque produz desigualdades e exclusão. Então, para além das decisões técnicas e planejadas, pela perspectiva administrativa e econômica, as variáveis ambientais devem ser consideradas sobre qualquer perspectiva de projetos de desenvolvimento para que sejamos sustentáveis.

Paradigmaticamente, vem-se agregando lucro a muitos produtos considerados parte da solução à questão. São as mercadorias e serviços ecológicos. Isto é possível porque está se agregando à produção de bens materiais bens imateriais relacionados à preservação ou a diminuição do impacto ao meio ambiente. Assim, enquanto a economia industrial tinha como insumos essencialmente a matéria e a energia, transformadas pelo trabalho humano, e como produtos, bens tangíveis, a economia pós-industrial, quer ser uma economia de serviços, para qual a informação será ao mesmo tempo o principal insumo e o principal produto.

Dentro dessa lógica da comoditização da crise ambiental corremos o risco do sistema capitalista nos apresentar como solução a possibilidade de deixarmos de ser simples consumidores para nos tornarmos "consumidores verde". Sob esta perspectiva não passamos a consumir menos, mas a consumir diferente. Então, do ponto de vista econômico e sistêmico, o binômio tecnologia limpa / “consumidor verde” representa a forma de enfrentamento do problema ambiental pelo assim chamado ecocapitalismo, e assim corremos o risco de perpetuar a continuidade da mesma racionalidade econômica e ideologia dominante da sociedade industrial de consumo desde seus primórdios.

Se por um lado o consumo verde promove um enfrentamento à questão do esgotamento dos recursos naturais, por outro, pode ter um efeito contrário podendo ser o agente que garanta a continuidade dos privilégios da sociedade afluente, mesmo que resulte algum benefício ao meio ambiente. Se assim for, a já conhecida distribuição desigual do acesso aos bens de consumo se mantém inalterada já que o direito de decidir como são produzidos, distribuídos e utilizados estes bens se restringe, novamente, às elites que podem pagar por produtos com tecnologia “verde” e estar na moda consumindo o que tem o selo ecológico, ao mesmo tempo em que empurram para os bolsões pobres as indústrias que utilizam tecnologia “suja” e os produtos que já não servem mais por não serem ecologicamente corretos. Portanto, corremos o risco de perpetuar os já antigos conflitos entre as classes sociais através da distribuição e apropriação de bens.

Certamente estamos empenhados em resolver a situação, mas não sabemos exatamente o quanto nossas ações serão efetivas e suficientes. O engajamento de Gisele Bündchen serve como exemplo para a situação descrita acima: ao divulgar práticas que preservarão o ambiente fica claro que sua intenção é usar a influência de sua imagem no convencimento das pessoas a agirem de modo ecologicamente correto, além de associar sua própria imagem ao que a revista MUSE chamou de "O Anjo da Terra", fazendo com quem queira “consumir” Gisele possa passar a agir em prol da preservação do ambiente. Na matéria publicada pela revista, a modelo fala sobre seu engajamento socioambiental, os projetos que defende como o Água Limpa e ainda aproveita para divulgar o novo lançamento, sua linha de cremes Sejaa, composta por produtos de menor impacto sobre o meio ambiente.

Está claro que a modelo busca maior conscientização global sobre a questão do meio ambiente e suas intenções são as melhores para salvar o planeta. Não estou aqui para julgar ninguém, nem duvidar de intenções, só estou tentando mostrar, dentro da lógica do mercado, além de valorizada ela valoriza as marcas a que se associa, incluindo também suas ações em prol da sustentabilidade. Entretanto, não se pode mascarar a realidade, a que nos mostra que Gisele é um ícone da lógica consumista, o principal vilão dos atuais problemas ambientais, a tal ponto de ter sido criado um índice com seu nome na Bolsa de Nova York, o Gisele Bündchen Stock Index, que reúne as ações de empresas que têm imagem ligada à da top model e as compara com os demais papéis negociados na bolsa americana. Pela comparação das valorizações, a conclusão é que é muito mais rentável investir em Gisele do que no Dow Jones. O criador do índice, o americano Fred Fuld, afirmou que Gisele é "uma máquina de vender" e seu nome está associado aos mais diversos tipos de produtos: das marcas de luxo Louis Vuitton e Givenchy a gigante de computadores Apple. No Brasil, onde Gisele emprestou sua imagem para companhias como Vivo, C&A e Greendene, tiveram seus lucros multiplicados. As vendas da C&A aumentaram entre 20 e 30% na época em que Gisele aparecia nos comerciais de TV e revistas da empresa. Assim, as marcas ao se associarem a Gisele têm lucros muito maiores do que os habituais, chegando a se valorizar em 29% na Bolsa de Nova York, no período analisado. A Nívea, em 2004, viu suas vendas saltarem 67% e na Dior Gisele garantiu um aumento de 20%.

Provavelmente o mesmo apelo que a imagem de Gisele tem para vendas deverá ser transferido para adesão nas questões ambientais, o que é positivo. Porém, este processo não deixa de estar repleto das contradições que perpassam o capitalismo: a mesma imagem que cobra US$ 70 por um potinho de creme natural Sejaa e faz as cifras das marcas associadas a ela se multiplicarem em vendas se mostra preocupada com o futuro ambiental do planeta, porém é justamente o superconsumo que nos trouxe a esta situação. Estamos diante de uma balança frágil, por um lado a modelo faz campanhas promovendo ações para não deixar torneiras pingando, trocar as lâmpadas pelas de menor consumo, evitar o uso de sacolas plásticas, do outro só com sua linha de sandálias de plástico Ipanema, da Greendene, ela lucra cerca de US$ 6 milhões por ano. Em seu site, Gisele diz para voarmos menos, a aviação gera de 2% a 3% das emissões de dióxido de carbono, diz que uma videoconferência ao invés daquela viagem a trabalho agride menos o ambiente e faz uma diferença significativa para a atmosfera. Mas será que Gisele está voando menos? Ela faz parte de uma minoria privilegiada, mas será que consegue equilibrar os danos ambientais compensando sua pegada ecológica convencendo milhares de pessoas a agirem de um modo que ela jamais o fará?

É preciso perceber que um dos grandes vilões e culpados dos males ambientais é a cultura de consumo, ou melhor, o consumismo. Vivemos numa sociedade em que vemos um padrão ostentatório de uma minoria que exploram os recursos minerais dos quais não podem mais viver sem, enquanto os mais pobres exploram no lixo sua sobrevivência diária. Mesmo que o “consumo verde” traga benefícios ao ambiente, ele tem agregado a si um caráter alienante, pois em grande parte serve para salvarmos nossa consciência e não nosso Planeta, pois alimenta a indústria e não as necessidades dos seres humanos. Uma minoria privilegiada comprará o creme Sejaa ecologicamente correto e os que dispõem de menos renda terá que se contentar com o Nívea ou Pantene, de menor custo, e será que também são produzidos de forma a causar menos impacto ambiental? Será que Gisele pediria para não mais usarmos sandálias de plástico, composta por este material que é um dos maiores vilões dessa história? Será que a modelo verifica se todas as empresas as quais associa sua imagem utiliza processos de menor impacto ambiental em seu processo produtivo?

Enquanto deixarmos de focar em alternativas para a descartabilidade, a obsolescência programada e a redução do consumo e somente mantemos nosso foco na reciclagem, no uso de tecnologias limpas, na redução do desperdício e somente incrementando um mercado consumidor verde talvez não seja suficiente como solução, porque prevalecendo a corrida produtiva pode não haver proeza tecnológica capaz de por fim à degradação do meio ambiente. Então, os padrões de produção devem ser modificados, tanto com substituição de matérias primas e matrizes energéticas como o combate do desperdício.

De algum modo, a exposição às discussões e campanhas sobre o problema ambiental está moldando a sociedade, muitos estão dispostos a colaborar, só não se sabe se deste modo será efetivo e é a forma que a questão necessita. O que estamos presenciando é de fato uma mudança cultural no comportamento e nos hábitos sociais, resta saber se esta mudança é apenas superficial, se no fundo não é apenas um modo de perpetuar os antigos hábitos, o nosso velho modo de viver. Esta é uma oportunidade de repensarmos nossa sociedade, nosso modo de vida e nossa pretensão deve ser alta, não podemos apenas querer salvar o futuro, mas temos o dever de salvar o presente, porque mais importante do que buscarmos a solução para sobreviveremos aos impactos ambientais, temos que resolver como vamos salvar as pessoas que não conseguem sobreviver hoje.


* O Projeto Água Limpa é uma iniciativa pessoal da Gisele e de sua família que tem como objetivo implementar ações de gestão ambiental sustentável e promover a recuperação da mata ciliar das microbacias de Horizontina e Tucunduva (RS), região onde a top nasceu.O Água Limpa visa ser um instrumento da sociedade civil no desenvolvimento de uma nova cultura, preocupado com a natureza, justiça social, sustentabilidade e com ações claras do que seja cidadania e ética.

** Criado em 2004, o Programa Florestas do Futuro é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e visa à recuperação de matas ciliares que fazem a proteção para produção de água.

*** Frase na página do site: “Gisele Bundchen, em parceria com a Grendene, apóia o movimento Nascentes do Brasil”. Esta campanha da WWF Brasil tem o objetivo de incentivar todos os brasileiros e o poder público a adotar medidas de proteção às nascentes e a usar a água com inteligência.


 Referências:
http://www.greennationfest.com.br/

http://www.greennationfest.com.br/pt/apresentacao

http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/gisele-bundchen-planta-arvore-no-rj-para-marcar-dia-mundial-do-meio-ambiente

http://www.giselebundchen.com.br/

http://blog.giselebundchen.com.br/br

http://blog.giselebundchen.com.br/planeta/projeto-agua-limpa-no-concurso-cidades-ativas-cidades-saudaveis/

http://blog.giselebundchen.com.br/planeta/voe-menos/

http://blog.giselebundchen.com.br/planeta/pegada-ecologica/

http://blog.giselebundchen.com.br/planeta/qual-o-tamanho-da-sua-pegada-ecologica/

http://www.sejaabrasil.com.br/#

http://www.sejaa.com/

http://www.florestasdofuturo.org.br/site/

http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/nascentes/

http://fashiongonerogue.com/gisele-bundchen-muse-summer-2010-nino-muoz/

http://www.giselebundchen.com.br/novidades/4132/capas-gisele-bundchen-stock-index

http://alluxinvest.wordpress.com/2011/11/21/quebre-o-porquinho-e-invista-em-gisele-bundchen/

http://www.andravirtual.com/mostra.asp?noticias=10582&Classe=


http://gente.ig.com.br/materias/2010/06/13/o+indice+gisele+bundchen+o+poder+de+venda+da+modelo+mais+bem+paga+do+mundo+9511236.html

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,gisele-bundchen-da-contribuicao-simbolica-a-rio20,882139,0.htm

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/06/gisele-bundchen-planta-arvore-no-rj-para-marcar-dia-mundial-do-meio-ambiente.html

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/06/gisele-bundchen-visita-green-nation-fest-no-rio.html

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/jovens-no-rio-aprendem-ter-atitudes-sustentaveis-no-green-nation-fest.html

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/simulacao-de-enchente-faz-sucesso-no-green-nation-fest-na-quinta.html

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Atualidade: A Sociedade e Sua Pegada Ecológica

“Não mais podemos tolerar tal situação, que nos levou além dos limites da capacidade de sustento da Terra, e na qual vinte por cento das pessoas consomem oitenta por cento dos recursos mundiais”, Portilho*.

A maneira como os seres humanos se relacionam com o meio ambiente vem se alterando ao longo da história. Por um longo tempo pensou-se que os recursos naturais seriam ilimitados, porém, eles são finitos e a Terra não tem capacidade de sustentar nosso estilo de vida atual, ainda mais se pretendemos incluir a massa populacional socialmente excluída que não desfruta de um padrão de vida digna minimamente aceitável.

Os mais sérios problemas globais relacionados ao desenvolvimento e meio ambiente que enfrentamos atualmente decorrem da ordem econômica mundial caracterizada pela produção e consumo sempre crescentes, gerando como conseqüência o esgotamento e a contaminação de nossos recursos naturais, além de provocar o agravamento da pobreza, criar e perpetuar desigualdades abissais.

O modo que nossa sociedade vem se desenvolvendo e está sendo construída através dos séculos está provocando uma marca no planeta de degradação ambiental chamada de “Pegada Ecológica” (o termo vem do inglês ecological footprint que significa a quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos gastos por uma determinada população) que a cada dia se mostra insustentável e ameaça nossa própria existência.

A “Pegada Ecológica” mostra até que ponto nosso estilo de vida está de acordo com a capacidade do planeta; ela não é uma medida exata, mas sim uma estimativa da quantidade de planetas necessários caso o modo de viver de cada um fosse adotado por todas as pessoas na Terra, ou seja, se houvesse menos injustiça social na distribuição dos recursos e todas as pessoas, que passam por necessidades básicas, fossem incluídas no modo de vida capitalista ocidental. Ela pode ser calculada para um país, uma cidade, ou para uma pessoa, de um modo geral, quanto mais industrializada a sociedade, mais recursos da Terra consomem, necessitando de mais espaço territorial para produzir os recursos que a sustente, provocando uma pegada maior do que sociedades com menor grau de industrialização, necessitando recursos de todas as partes do mundo, afetando cada vez locais mais distantes.

O avanço da globalização possibilitou o incremento das atividades capitalistas dos países mais industrializados, acentuando ainda mais o degrau existente entre os diversos níveis de industrialização das diferentes nações mundiais e conseqüentemente do seu consumo e estilo de vida. A Figura** abaixo apresenta um retrato da atual “Pegada Ecológica” em hectares (ha) por pessoa nos diferentes continentes com destaque para alguns países, e a quantidade de planetas necessários caso o mundo inteiro levasse o padrão de vida igual ao daquele determinado lugar. Assim, se todos seguissem o padrão de vida da América do Norte seriam necessários mais do que 5 planetas, enquanto que se, inversamente, todos vivêssemos como os africanos um planeta seria mais que suficiente para todos.


 
A China, em 2010, possuía uma população de bilhões de pessoas, enquanto os Estados Unidos tinham 309,7 milhões, ou seja, a China tem aproximadamente um bilhão a mais de pessoas que os Estados Unidos***, além de ser o país que mais se desenvolve economicamente e industrialmente no mundo; ainda assim, de acordo com a Figura, sua Pegada Ecológica por pessoa é de 1,6 sendo menor do que o valor considerado ideal que seria de 1,8, enquanto que os Estados Unidos possui uma Pegada de 9,6 por pessoa, isto é mais de cinco vezes o valor ideal. Imaginemos que a China queira atingir o padrão de consumo americano, possibilitando que toda sua população desfrute do mesmo estilo de vida que os habitantes da América do Norte, e que a Índia, com sua população atual de bilhões de habitantes e “Pegada Ecológica” de 0,8, também conseguisse atingir o mesmo padrão, o Planeta entraria em colapso antes mesmo que isso acontecesse.

A próxima Figura é um retrato da situação em 2006: no eixo X temos a população total por país, no eixo Y a emissão de CO2 per capita, o tamanho da esfera é o uso de energia per capita e as cores representam a renda (verde – países de alta renda pertencentes a OCDE****, vermelho – países de alta renda não pertencentes a OCDE, azul – países de baixa renda, amarelo – países com menor renda média e rosa – com renda média superior). Como pode-se observar, os Estados Unidos e o Canadá tem um consumo per capita de combustíveis fósseis elevado, o Canadá tem emissão total de CO2 baixa se comparada com China e EUA, porém nas emissões per capita são altas o que é confirmado por sua pegada ecológica de 7,6 na figura anterior. Já a China, com o peso de sua população, tem baixa emissão per capita, assim como a Índia. Comparando na Figura abaixo, a posição de alguns países, fica claro o peso que cada um tem nesse frágil equilíbrio formado entre o capitalismo e o meio ambiente. Também fica evidente que alguns países, como Etiópia e Haiti, necessitam se desenvolver, o que significa queimar e aumentar as emissões no mundo porque as condições de existência da população precisam melhorar.


Por outro lado, a crescente demanda por comida em diversos países em desenvolvimento é motivada pelo crescimento econômico, o aumento da renda per capita e a urbanização. Nos últimos decênios, a economia mundial tem apresentado uma expansão sem precedentes e o crescimento da renda per capita aumentado rapidamente. Existe uma relação direta entre o aumento da renda e o consumo per capita de alimentos como a carne que exige muito mais recursos para produção, como pode ser visto na tabela abaixo. Assim, se torna imprescindível o aumento da produtividade na agricultura para fomentar o crescimento econômico, a redução da pobreza e a segurança alimentar das populações.


 
O incremento da produtividade agrícola tem efeitos positivos para a população pobre em três sentidos: provoca uma queda nos preços dos alimentos para os consumidores, facilita entrada de novos produtores e multiplica o crescimento do resto da economia na medida em que aumenta a demanda de outros bens e serviços. Nos países onde o consumo per capita de produtos pecuários tem aumentado nos últimos decênios, em particular nas economias de rápido crescimento como o Brasil, China e Índia, demonstra que economicamente estão se distanciando daqueles em que o consumo de produtos agrícolas se manteve constante ou apresentou queda, como grande parte da África Subsaariana. Esta situação na qual os países precisam passar para estimular o seu desenvolvimento gera mais e mais pressão sobre o ambiente.

De acordo com a ONU, cerca de 1 bilhão de pessoas atualmente passam fome no mundo. A falta de alimentos não é o problema, hoje em dia se produz suficientemente no mundo para que todos estivessem bem alimentados e levassem uma vida sã. Contudo, há fome devido a pobreza ou a catástrofes naturais como terremotos, inundações, etc. Há fome porque muitas vezes a mulher não tem tanta oportunidade como os homens no acesso à terra e a crédito. Existe fome por causa de conflitos que despojam as pessoas da terra, das oportunidades de se ganhar a vida dignamente, impedindo os pobres de terem acesso a uma infra-estrutura agrícola suficiente para produzir, ou porque carecem de trabalho. Há fome porque as pessoas estão usando os recursos naturais de forma insustentável, porque em muitos países não existe investimento suficiente no setor rural para apoiar o desenvolvimento agrícola, porque as crises financeiras e econômicas afetam principalmente aos mais necessitados.

  O Banco Mundial traça duas linhas de pobreza, pessoas que vivem com menos de U$1,25 e pessoas que vivem com menos de U$2 ao dia. São essas pessoas as que menos consomem, conseqüentemente são as que menos têm participação nos problemas ambientais da atualidade e, provavelmente são as que mais sofrerão com eles, principalmente nos países em desenvolvimento. Os pobres são mais propensos a morar em áreas vulneráveis a enchentes, tempestades e elevação do nível do mar; tendem a depender da agricultura e da pesca para sua subsistência e, portanto, correm o risco de passar fome ou perder seus meios de subsistência quando acometidos por secas, quando as chuvas tornam-se imprevisíveis e quando furacões passam por suas regiões com força sem precedentes.

 
Considerando as pessoas mais pobres do mundo, 50% das pessoas que vivem na África Subsaariana ganham menos de U$1,25 ao dia e 73% desta população vive com menos de U$2 ao dia, somente no Sul da Ásia mais pessoas vivem com tão pouco, alcançando 74%. A Nigéria é um grande exportador de petróleo, porém mais de 70% de sua população vive abaixo da linha da pobreza. A riqueza está lá, mas os habitantes do país não têm acesso a ela. De acordo com o Banco Mundial, a China é aonde a pobreza vem diminuindo mais rapidamente, reduzindo sua população pobre em cerca de 475 milhões de pessoas. Enquanto em 1990, 37% dos pobres do mundo foram encontrados na China até 2005 o número tinha diminuído para 15%.

Se, por um lado, essa parcela da população mundial não tem o mínimo necessário para sua sobrevivência, por outro, uma minoria privilegiada, consome seu quinhão dos recursos disponíveis no planeta e a parcela que deveria pertencer a esses excluídos. O resultado dessa distribuição tão desproporcional só poderia ser o lixo, o descarte, a obsolescência desta população. No lixo não só vai parar o que não serve mais. Para lá vão desde embalagens de todo gênero, das mais simples às que envolvem alta tecnologia para serem produzidas a produtos ainda em bom estado que poderiam ainda estar sendo utilizados, mas que são descartados simplesmente porque estão obsoletos.

Mais da metade da produção mundial de lixo urbano pertence aos cidadãos dos países desenvolvidos. Estima-se que para cada cem quilos de produtos manufaturados nos Estados Unidos, são criados 3.200 quilos de lixo. Os países ricos são melhores produtores de lixo do que propriamente de bens de consumo. Quanto mais rico o país ou a cidade, maior a quantidade de lixo gerada, assim os Estados Unidos Lideram o ranking dos maiores geradores de lixo per capita do mundo. O lixo além de poluir e se transformar em toneladas inúteis de recursos, que foram extraídos do planeta, contribui para a comprovação da desigualdade social uma vez que existem milhares de pessoas que vivem dele por falta de outra oportunidade, numa tentativa de se inserir de algum modo na sociedade. Além do mais, alimenta-se a idéia de que com a reciclagem o problema do lixo estaria resolvido, por isso não há nenhum esforço para tentar reduzir a própria produção do lixo, que é a origem do problema, mas é evidente que ano após ano há um aumento na quantidade de lixo produzida sem que pouco ou nada seja feito a respeito.

Portanto, existe uma contradição entre a necessidade de produção e consumo do sistema capitalista e a de preservação ambiental. O mundo já está consciente da degradação do planeta e muitas ações estão sendo tomadas para mitigar ou prevenir que o problema se agrave, seja por parte de órgãos governamentais e de medidas oficiais por parte dos governos dos Estados, seja por meio de pesquisas que vem sendo feitas pelos cientistas, tanto para dimensionar o problema quanto para resolvê-lo, seja ainda por parte das próprias empresas capitalistas que deverão cada vez mais contribuir diretamente com as soluções e, também, individualmente, por cada um de nós.

O sistema capitalista, que hoje rege nossas vidas, dificilmente passará por mudanças profundas em sua lógica essencial do objetivo máximo voltado ao lucro, pelo menos num espaço curto de tempo, e dificilmente as pessoas, também, abrirão mão do bem-estar e do nível de consumo adquirido, portanto, todas as ações, por menores que pareçam, são bem vindas, tanto as individuais quanto as por parte das empresas, de algum modo elas serão efetivas, ou pelo menos não contribuirão para o agravamento do problema. Não é hora de medirmos esforços, devemos ser perseverantes e fazermos nossa parte, cobrar dos outros e da sociedade como um todo que também faça a sua e assim construirmos um futuro possível.
 

* Consumo "Verde", Democracia Ecológica e Cidadania: Possibilidades de Diálogo? - Artigo sem data: http://www.rubedo.psc.br/Artigos/consumo.htm
** Fonte: Site WWF
*** Dados do Banco Mundial
**** OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é uma organização internacional de 31 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Os membros da OCDE são economias de alta renda com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e são considerados países desenvolvidos.


Para saber mais sobre a “Pegada Ecológica”:

WWF
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/

Calcule sua pegada - Escolha o Brasil como seu país para fazer o teste em português
http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/calculators/

Reduza sua pegada
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/reduza_sua_pegada/

Fantástico
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680596-15605,00-LOTACAO+ESGOTADA+MILHOES+DE+PESSOAS+NO+MUNDO+PASSAM+FOME.html

Referências:

Banco Mundial
http://devdata.worldbank.org/DataVisualizer/
http://data.worldbank.org/topic/poverty

REYNOL, Fábio; Lixo - consumo, descarte e riqueza, CMQV – Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida, 2008.

COHEN, Claude Adélia Moema Jeanne; Padrões de Consumo: Desenvolvimento, Meio-Ambiente e Energia no Brasil, Tese, UFRJ, Rio de Janeiro, 2002.

FAO; El Estado Mundial de La Agricultura y La Alimentación, Organização das nações Unidas para Agricultura e Alimentação, Roma, 2009.

FÓRUM GLOBAL, Tratado Sobre Consumo e Estilo de Vida, Rio de Janeiro, 1992.