O engajamento de Gisele não vem de hoje, em seu site oficial faz campanhas para o ambiente dando dicas sobre pequenas coisas para se fazer no dia-a-dia como usar as escadas para subir até dois andares, participar da Coleta Seletiva, evitar usar sacolas plásticas, cozinhar na panela de pressão, pagar suas contas online, entre outras e também divulga iniciativas como o Projeto Água Limpa*, Florestas do Futuro**, WWF - Nascentes do Brasil***, etc.
Portanto, não basta participarmos de uma ação isolada como a “Hora do Planeta”, promovida pela WWF, quando se marca data e hora para apagarmos a luz do local onde estivermos, isso serve para criarmos consciência, mas são atitudes diárias e permanentes que ao incorporarmos em nossos hábitos que farão a diferença como tomar banhos todos os dias menos demorados, com a separação seletiva do lixo, trocar as lâmpadas incandescente por outras mais econômicas, apagarmos as luzes de ambientes que não estão sendo usados, diminuirmos a quantidade de sacos plásticos, recolhermos nosso lixo das praias, não jogarmos lixo nos rios, entre muitos outros hábitos que somados poderão mudar a face do problema.
É evidente que uma mudança cultural está em marcha e ela trará uma mudança no comportamento das pessoas, o difícil é medir o quanto isso será efetivo. Porém, muita da responsabilidade está sendo jogada para cima do comportamento individual, do consumismo e do desperdício que tomou conta de nossa sociedade capitalista ocidental e é claro que cada um de nós tem sua parcela nessa culpa. Estamos diante de um momento singular da trajetória humana na Terra, o qual nos direciona para uma reflexão a respeito da sociedade industrial contemporânea e seus impactos sobre o meio ambiente nas diversas escalas sociais. O modo como a sociedade está lidando e o rumo que dará à questão ecológica será imprescindível para determinar o futuro daqui por diante.
Estamos presenciando uma crise generalizada e global não somente econômica, ecológica ou social, mais que isso, é uma crise do próprio sentido da vida e de nossa sobrevivência como espécie, é também uma crise de nossa forma de pensar e agir no mundo. Sobreviveremos na medida em que formos capazes de construir uma nova racionalidade ambiental para responder aos desafios presentes. A solução não será fácil, não será individual, não virá dos governos e órgãos internacionais, não será única, pois passa por diversas dimensões: física, econômica, cultural, tecnológica, biológica e principalmente humana. Precisamos, com todos os nossos recursos, em conjunto com todas as nossas sociedades e com toda tecnologia que dispusermos, enfrentar o problema em busca de uma sustentabilidade que garanta nossa existência e das gerações futuras.
O que nos trouxe a esta situação foi nosso estilo de vida determinado pelo sistema capitalista que exige um padrão de consumo para se auto-alimentar e que, por outro lado, nos garante um bem-estar jamais desfrutado pela humanidade, contudo, somente sendo possível porque produz desigualdades e exclusão. Então, para além das decisões técnicas e planejadas, pela perspectiva administrativa e econômica, as variáveis ambientais devem ser consideradas sobre qualquer perspectiva de projetos de desenvolvimento para que sejamos sustentáveis.
Paradigmaticamente, vem-se agregando lucro a muitos produtos considerados parte da solução à questão. São as mercadorias e serviços ecológicos. Isto é possível porque está se agregando à produção de bens materiais bens imateriais relacionados à preservação ou a diminuição do impacto ao meio ambiente. Assim, enquanto a economia industrial tinha como insumos essencialmente a matéria e a energia, transformadas pelo trabalho humano, e como produtos, bens tangíveis, a economia pós-industrial, quer ser uma economia de serviços, para qual a informação será ao mesmo tempo o principal insumo e o principal produto.
Dentro dessa lógica da comoditização da crise ambiental corremos o risco do sistema capitalista nos apresentar como solução a possibilidade de deixarmos de ser simples consumidores para nos tornarmos "consumidores verde". Sob esta perspectiva não passamos a consumir menos, mas a consumir diferente. Então, do ponto de vista econômico e sistêmico, o binômio tecnologia limpa / “consumidor verde” representa a forma de enfrentamento do problema ambiental pelo assim chamado ecocapitalismo, e assim corremos o risco de perpetuar a continuidade da mesma racionalidade econômica e ideologia dominante da sociedade industrial de consumo desde seus primórdios.
Se por um lado o consumo verde promove um enfrentamento à questão do esgotamento dos recursos naturais, por outro, pode ter um efeito contrário podendo ser o agente que garanta a continuidade dos privilégios da sociedade afluente, mesmo que resulte algum benefício ao meio ambiente. Se assim for, a já conhecida distribuição desigual do acesso aos bens de consumo se mantém inalterada já que o direito de decidir como são produzidos, distribuídos e utilizados estes bens se restringe, novamente, às elites que podem pagar por produtos com tecnologia “verde” e estar na moda consumindo o que tem o selo ecológico, ao mesmo tempo em que empurram para os bolsões pobres as indústrias que utilizam tecnologia “suja” e os produtos que já não servem mais por não serem ecologicamente corretos. Portanto, corremos o risco de perpetuar os já antigos conflitos entre as classes sociais através da distribuição e apropriação de bens.
Certamente estamos empenhados em resolver a situação, mas não sabemos exatamente o quanto nossas ações serão efetivas e suficientes. O engajamento de Gisele Bündchen serve como exemplo para a situação descrita acima: ao divulgar práticas que preservarão o ambiente fica claro que sua intenção é usar a influência de sua imagem no convencimento das pessoas a agirem de modo ecologicamente correto, além de associar sua própria imagem ao que a revista MUSE chamou de "O Anjo da Terra", fazendo com quem queira “consumir” Gisele possa passar a agir em prol da preservação do ambiente. Na matéria publicada pela revista, a modelo fala sobre seu engajamento socioambiental, os projetos que defende como o Água Limpa e ainda aproveita para divulgar o novo lançamento, sua linha de cremes Sejaa, composta por produtos de menor impacto sobre o meio ambiente.
Está claro que a modelo busca maior conscientização global sobre a questão do meio ambiente e suas intenções são as melhores para salvar o planeta. Não estou aqui para julgar ninguém, nem duvidar de intenções, só estou tentando mostrar, dentro da lógica do mercado, além de valorizada ela valoriza as marcas a que se associa, incluindo também suas ações em prol da sustentabilidade. Entretanto, não se pode mascarar a realidade, a que nos mostra que Gisele é um ícone da lógica consumista, o principal vilão dos atuais problemas ambientais, a tal ponto de ter sido criado um índice com seu nome na Bolsa de Nova York, o Gisele Bündchen Stock Index, que reúne as ações de empresas que têm imagem ligada à da top model e as compara com os demais papéis negociados na bolsa americana. Pela comparação das valorizações, a conclusão é que é muito mais rentável investir em Gisele do que no Dow Jones. O criador do índice, o americano Fred Fuld, afirmou que Gisele é "uma máquina de vender" e seu nome está associado aos mais diversos tipos de produtos: das marcas de luxo Louis Vuitton e Givenchy a gigante de computadores Apple. No Brasil, onde Gisele emprestou sua imagem para companhias como Vivo, C&A e Greendene, tiveram seus lucros multiplicados. As vendas da C&A aumentaram entre 20 e 30% na época em que Gisele aparecia nos comerciais de TV e revistas da empresa. Assim, as marcas ao se associarem a Gisele têm lucros muito maiores do que os habituais, chegando a se valorizar em 29% na Bolsa de Nova York, no período analisado. A Nívea, em 2004, viu suas vendas saltarem 67% e na Dior Gisele garantiu um aumento de 20%.
Provavelmente o mesmo apelo que a imagem de Gisele tem para vendas deverá ser transferido para adesão nas questões ambientais, o que é positivo. Porém, este processo não deixa de estar repleto das contradições que perpassam o capitalismo: a mesma imagem que cobra US$ 70 por um potinho de creme natural Sejaa e faz as cifras das marcas associadas a ela se multiplicarem em vendas se mostra preocupada com o futuro ambiental do planeta, porém é justamente o superconsumo que nos trouxe a esta situação. Estamos diante de uma balança frágil, por um lado a modelo faz campanhas promovendo ações para não deixar torneiras pingando, trocar as lâmpadas pelas de menor consumo, evitar o uso de sacolas plásticas, do outro só com sua linha de sandálias de plástico Ipanema, da Greendene, ela lucra cerca de US$ 6 milhões por ano. Em seu site, Gisele diz para voarmos menos, a aviação gera de 2% a 3% das emissões de dióxido de carbono, diz que uma videoconferência ao invés daquela viagem a trabalho agride menos o ambiente e faz uma diferença significativa para a atmosfera. Mas será que Gisele está voando menos? Ela faz parte de uma minoria privilegiada, mas será que consegue equilibrar os danos ambientais compensando sua pegada ecológica convencendo milhares de pessoas a agirem de um modo que ela jamais o fará?
É preciso perceber que um dos grandes vilões e culpados dos males ambientais é a cultura de consumo, ou melhor, o consumismo. Vivemos numa sociedade em que vemos um padrão ostentatório de uma minoria que exploram os recursos minerais dos quais não podem mais viver sem, enquanto os mais pobres exploram no lixo sua sobrevivência diária. Mesmo que o “consumo verde” traga benefícios ao ambiente, ele tem agregado a si um caráter alienante, pois em grande parte serve para salvarmos nossa consciência e não nosso Planeta, pois alimenta a indústria e não as necessidades dos seres humanos. Uma minoria privilegiada comprará o creme Sejaa ecologicamente correto e os que dispõem de menos renda terá que se contentar com o Nívea ou Pantene, de menor custo, e será que também são produzidos de forma a causar menos impacto ambiental? Será que Gisele pediria para não mais usarmos sandálias de plástico, composta por este material que é um dos maiores vilões dessa história? Será que a modelo verifica se todas as empresas as quais associa sua imagem utiliza processos de menor impacto ambiental em seu processo produtivo?
Enquanto deixarmos de focar em alternativas para a descartabilidade, a obsolescência programada e a redução do consumo e somente mantemos nosso foco na reciclagem, no uso de tecnologias limpas, na redução do desperdício e somente incrementando um mercado consumidor verde talvez não seja suficiente como solução, porque prevalecendo a corrida produtiva pode não haver proeza tecnológica capaz de por fim à degradação do meio ambiente. Então, os padrões de produção devem ser modificados, tanto com substituição de matérias primas e matrizes energéticas como o combate do desperdício.
* O Projeto Água Limpa é uma iniciativa pessoal da Gisele e de sua família que tem como objetivo implementar ações de gestão ambiental sustentável e promover a recuperação da mata ciliar das microbacias de Horizontina e Tucunduva (RS), região onde a top nasceu.O Água Limpa visa ser um instrumento da sociedade civil no desenvolvimento de uma nova cultura, preocupado com a natureza, justiça social, sustentabilidade e com ações claras do que seja cidadania e ética.
** Criado em 2004, o Programa Florestas do Futuro é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e visa à recuperação de matas ciliares que fazem a proteção para produção de água.
*** Frase na página do site: “Gisele Bundchen, em parceria com a Grendene, apóia o movimento Nascentes do Brasil”. Esta campanha da WWF Brasil tem o objetivo de incentivar todos os brasileiros e o poder público a adotar medidas de proteção às nascentes e a usar a água com inteligência.
http://www.greennationfest.com.br/
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http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/gisele-bundchen-planta-arvore-no-rj-para-marcar-dia-mundial-do-meio-ambiente
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http://alluxinvest.wordpress.com/2011/11/21 /quebre-o-porquinho-e-invista-em-gisele-bundchen/
http://gente.ig.com.br/materias/2010/06/13 /o+indice+gisele+bundchen+o+poder+de+venda+da+modelo+mais+bem+paga+do+mundo+9511236.html
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,gisele-bundchen-da-contribuicao-simbolica-a-rio20,882139,0.htm
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http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/05/simulacao-de-enchente-faz-sucesso-no-green-nation-fest-na-quinta.html
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