sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Questione: O Último Dia

Hoje é o último dia do ano, o último dia da década e o último dia de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidência da República Federativa do Brasil após oito anos de governo, terminando, segundo o CNT/Sensus, seu mandato com popularidade recorde mundial: 87% de aprovação à frente da ex-presidente chilena Michelle Bachelet, que tinha 84% e, acima de líderes mundiais históricos, como o primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela (82% de aprovação), o ex-presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt (66%), e o general francês Charles De Gaulle (55%). Seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, deixou o governo com 26% de aprovação.

“Eu não sou o resultado de uma eleição. Eu sou o resultado de uma história. Eu estou concretizando o sonho de gerações e gerações que, antes de mim, tentaram e não conseguiram.” – Lula em seu discurso de posse do primeiro mandato.

Quando Lula se elegeu presidente, achei que algumas coisas seriam diferentes, mas eu era um pouco ingênua ou tinha pouco conhecimento da dinâmica das coisas, por outro lado, “nunca antes na história deste país”, a oposição, dita de esquerda, havia sido eleita para o posto máximo de nação, um retirante nordestino, operário, havia sido presidente. Talvez por isso não desse para saber, mas dava para imaginar que suas idéias, seu modo de pensar não seriam iguais ao de seus antecessores, por isso acreditei que certas coisas mudariam.

Acreditei que o país começasse a pensar um pouco diferente do pensamento que reinou por aqui em 500 anos de história, mas não foi bem assim. O presidente podia ter idéias diferentes, mas a elite era a mesma, a nossa imprensa continuava a mesma e os manda-chuvas do mundo ainda eram os de sempre. Lula não cerceou nenhum deles, agüentou todo tipo de ataque. Disseram que ele queria censurar a imprensa, mas não o fez, nunca a mídia falou tanto mal de um governante. E ele deixou falar. Quer um exemplo? A primeira Veja de 2003 foi sobre a posse, sua manchete: “Lula-de-Mel”, realmente foi uma festa como nunca antes vista, o povo estava eufórico. Na semana seguinte Veja estampa na capa: “Trapalhões na Decolagem”. Não havia passado nem uma semana e os ataques já haviam começado, as reportagens desta edição foram: “Os factóides do governo Lula” e “A ex-guerrilheira Dilma Rousseff”. Estas matérias são da revista que chegou as bancas em janeiro de 2003!

Não adiantou, a força do Presidente (hoje é o último dia que posso chamá-lo assim) era muito maior que isso. Além de sua alta popularidade, tem prestígio internacional que nem Barack Obama, aquele mesmo do “Yes, we can!”, que mobilizou o mundo, conseguiu. A festa da posse do americano foi um plagio da festa de Lula ocorrida seis anos antes. Se Obama venceu um tabu por ser negro, Lula já o havia feito devido sua origem. A grande diferença é que desde as respectivas festas, que para Lula passaram-se 8 anos, ele está com mais prestígio do que nunca e para o outro passaram-se apenas 2 anos, mas não tem nem vestígio da popularidade de sua eleição, sofreu uma derrota eleitoral em 2010 enquanto Lula deixa 2010 fazendo mais uma vez a história, elegendo a primeira mulher Presidenta do Brasil.

Assim, encerro este ano com esta mensagem, apesar de todo revés que sofreu ele foi um vencedor, tentaram desmoralizá-lo de todo modo, mas seu prestígio continua intocável. Para nossas vidas pessoais podemos aprender com ele que disse que quando se lembrava de sua história e o via ocupando o cargo mais alto de uma nação só conseguia pensar que podemos muito mais. Fica, então, esta mensagem. Espero que Lula continue conosco e usando seu prestígio em prol de nossa nação.

“Creio num futuro grandioso para o Brasil, porque a nossa alegria é maior do que a nossa dor, a nossa força é maior do que a nossa miséria, a nossa esperança é maior do que o nosso medo.” – Lula em seu discurso de posse do primeiro mandato.


Feliz Ano Novo


Foto da edição de Veja sobre a posse

Mais Sobre Lula Presidente:





Triunfo Histórico

Lula-de Mel

Trapalhões na Decolagem

Documentários:

Entreatos – de João Moreira Salles

Peões – de Eduardo Coutinho

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Questione: Retrospectiva 2010

Relembrando os acontecimentos deste ano, fiz uma relação do que marcou o ano de 2010 e, em minha opinião, os cinco fatos que mais marcaram, não necessariamente em ordem de importância foram: a Invasão ao Morro do Alemão, o Resgate dos Mineiros no Chile, a Explosão do Vulcão na Islândia, o Derramamento de Petróleo no Golfo do México e as Revelações do Wikileaks.

Mas se ater apenas a isso é pouco representativo do ano que está acabando que foi bem intenso, como tem sido os últimos anos. A internet e a pulverização de câmeras ajudam a disseminar as imagens e notícias que nos chegam, dando esta impressão de intensidade, estamos vendo mais, sabendo mais, acessando mais, nos comunicando mais, cada um de nós é protagonista da informação como nunca foi possível em outra época da história.

Com a virada do ano chegamos ao fim da primeira década do Século XXI, já se passaram 10 anos do novo milênio, para os que pensaram que o mundo ia acabar chegamos relativamente bem até aqui, mas o apocalipse não para de se anunciar, sendo assim, que seja bem vindo 2011. Mais um ano chega e aguardemos o que vai nos reservar. Por hora, lembremos o que passou.

Na era da preocupação com o Planeta, a Terra continua nos dando trabalho, começamos o ano com um terremoto no já tão pobre Haiti, aumentando ainda mais uma miséria que já parecia ter atingido seu auge. Este episódio também ficou marcado por perdermos Zilda Arns que estava em Porto Príncipe para uma palestra. A Terra tremeu ainda mais, abalou também Chile e a China. A rica, elegante e madura Europa também não atravessou incólume o ano de 2010. Um vulcão na Islândia deixou todo mundo no chão e mostrou o quanto necessitamos de asas nos dias de hoje, depois veio a neve intensa cobrir o inverno de branco e completar o trabalho, não só na Europa, mas também nos Estados Unidos. Um tremor também abalou o Velho Continente, mas este não foi sentido na terra, mas nos bolsos. A crise financeira foi ameaçadora, principalmente para Grécia, onde ruíram as colunas que sustentam sua economia e se propagou para Espanha, Portugal, Irlanda e daí para o resto do mundo, são os ciclos do capitalismo em marcha.

A natureza continuou aprontando. Em abril o Rio de Janeiro parou depois de cair um volume de chuva recorde para um único dia, impedindo as pessoas voltarem para casa, causando estragos, deslizamentos e mortes. O auge da tragédia foi o deslizamento do Morro do Bumba em Niterói, revelando a precariedade das condições de vida a que estamos nos submetendo e o descaso de nossos governantes. Barracos que por si só não eram dignos de moradia desabaram trazendo consigo montes de lixo de um antigo lixão por cima do qual foram construídos, não havia mais separação entre o lar, a vida humana e os dejetos da produzidos pela sociedade.

Muitas das tragédias são provocadas pela mão do próprio homem. Este ano aconteceu um derramamento de petróleo sem precedentes no Golfo do México, causando um impacto ambiental que a natureza levará décadas para se recuperar. Já em terra firme tivemos dificuldades para respirar, do interior do Brasil à Rússia as queimadas nas florestas apagaram as paisagens, dissolvidas no meio de tanta fumaça. O Danúbio, que já foi azul e tema que já embalou muitos casais que rodopiavam pelos salões ao som da valsa de Strauss, se viu ameaçado por uma onda de lama tóxica que vazou de uma indústria de alumínio da Hungria. No seu rastro de destruição a lama vem arruinando o ambiente e arrastando consigo o pouco que resta da poesia no mundo, apagando a paisagem que um dia encantou e inspirou.

Mas, se no mundo ainda resta poesia perdemos alguém que muito bem sabia transformá-la em prosa. Em dezoito de julho morreu o grande escritor da língua portuguesa, o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago. Ainda no cenário das artes, pelo menos na República das Bananas, o destaque do ano foi a volta às telas do cinema do Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2. Filme que retrata nossa sociedade e política, onde o pobre favelado tem no destino ser traficante (usando aqui o estereótipo, pois estereotipados são eles na visão etnocêntrica de quem está de fora), só é derrotado por uma polícia-milícia que toma o seu lugar e seus lucros, com o aval de políticos para quem o importante é o número de votos que podem obter. Assim, Nascimento vira o herói, o único capaz de exterminar (no sentido literal) os bandidos sob os aplausos da platéia.

Enquanto isso, na vida real, a ficção inspirada na realidade, atravessa a tela e se torna mesmo real e o real se torna espetáculo transmitido ao vivo direto para nossa sala de estar. Dessa vez o Capitão Nascimento não é o herói, mas os anônimos do BOPE, do exército, da marinha, das polícias que entram na favela em busca dos bandidos em fuga, das armas ilegais, das drogas e da salvação dos pobres que vivem sob o jugo do tráfico. Em novembro, uma onda de terror tomou conta do Rio, carros e ônibus eram queimados em toda Região Metropolitana e a resposta das autoridades responsáveis foi inesperada e inédita. O resultado foi a expulsão do tráfico de drogas de duas das mais perigosas favelas do Rio de Janeiro, território dominado pelo poder paralelo, onde o Estado não se fazia presente. Agora somente o tempo dirá se essas pessoas terão um futuro melhor, porém, enquanto houver a brutalização dos pobres, o destino de muitos deles será o do crime. Enquanto isso, as imagens podem ser compradas nos camelôs com o título de Tropa de Elite 3 e assistidas no conforto de nossas poltronas enquanto nos empanturramos de pipoca.

Em outro lugar, numa realidade produzida por um processo histórico diferente, mas que gera pessoas igualmente excluídas socialmente, num lugar onde o muro de separação não é apenas imaginário, como o do Rio de Janeiro, mas feito de concreto, onde qualquer ajuda humanitária não será suficiente, encontra-se dominado por um Estado invasor que se acha no direito de subjugar um povo inteiro. Em maio, Israel atacou, em águas internacionais, uma frota que levava ajuda humanitária a Gaza matando 19 ativistas. Israel alega que reagiu a uma tentativa de furar o bloqueio à Faixa de Gaza, porém, os militares israelenses estavam fortemente armados e investiram contra pessoas com facas, bastões e estilingue. A questão é que a faixa de Gaza NÃO é território de Israel, então que direito têm de fazer um bloqueio? Tanto não tem que a ação provocou manifestações indignadas no mundo todo, foi solicitada uma investigação que comprovou que a ação foi desastrosa, porém parece que Israel sairá mesmo impune e quem sofre com isso é o povo oprimido que vive em condições desumanas em Gaza, semelhante àquela dos tão conhecidos campos do Holocausto. A história se repete, não serviu para ensinar e as vitimas se tornaram algozes.

Ainda no âmbito internacional, a notícia mais marcante foi o resgate dos 33 mineiros vivos no Chile após 69 dias presos, uma operação sem precedentes que durou quase 23 horas. Os trabalhadores foram içados em uma cápsula construída especialmente para esta operação. O resgate foi acompanhado ao vivo por um mundo emocionando-se, junto com as famílias das vítimas, por cada um que era retirado e saíam de lá muito bem.

Outro fato que também foi manchete, mas que não repercutiu bem internacionalmente, foi a declaração de Mahmoud Ahmadnejad na Assembléia Geral da ONU em setembro, quando disse que “muitas pessoas" acreditam que o governo americano foi o verdadeiro responsável pelos ataques de 11 de setembro, "a maioria do povo americano e muitos países e políticos pelo mundo concordam com essa versão". Muitas autoridades se retiraram da Assembléia, os representantes dos EUA foram os primeiros, afinal têm que continuar representando o papel e manter a versão de que o ataque foi orquestrado pelo bode expiatório Osama Bin Laden. O que Ahmadnejade disse não foi nenhum absurdo, realmente muitos acreditam nisto e qualquer um que pense um pouquinho achará difícil acreditar na versão oficial. Para saber mais, basta assistir Fahrenheit 11 de Setembro de Michael Moore ou Zeitgeist de Peter Joseph. O Presidente do Irã também foi pivô de outra polêmica, sobre o seu direito de enriquecimento de urânio, que dentre muitos usos serve para fins medicinais e fabricar a bomba atômica. Argumenta-se que ele pretende usar o urânio enriquecido para produzir a bomba, o curioso é que alguns dos opositores do Irã são países possuidores de um enorme arsenal de bombas nucleares, dentre eles, EUA e Israel, sendo que um deles já até jogou duas bombas contra uma população civil matando milhares de inocentes. Quem são os terroristas?

Continuando no campo da política, no Brasil tivemos eleições presidenciais, depois de oito anos de governo Lula da Silva, não podendo mais se reeleger e pela primeira vez depois da redemocratização não o tínhamos como opção de voto. Depois do país ter sido governado por um operário, elegemos nossa primeira Presidenta mulher, Dilma Roussef. Mas, tivemos a mais agressiva e difamatória campanha eleitoral da história do país, nunca tantas mentiras e calúnias forma feitas, até uma simulação de agressão foi ao ar no horário nobre e desmascarada, pois não passou de uma letal bolinha de papel; que papelão! Tentou-se de tudo para evitar a vitória de Dilma, mas o prestígio e popularidade de Lula a elegeram, coisa que nem Barack Obama conseguiu nos EUA. Sofrendo um revés nas eleições legislativas americanas, seu partido, o Democrata, ficou com a maioria apenas no Senado, porque o Partido Republicano reconquistou a maioria na Câmara dos Representantes, que nos últimos quatro anos os democratas ocuparam em maioria. Por aqui, o campeão de votos foi o palhaço Tiririca, eleito Deputado Federal por São Paulo, o mesmo Estado que tem uma parcela da população preconceituosa contra os brasileiros nascidos no belíssimo Nordeste de nosso imenso e diverso país.

Não posso terminar este post sem falar da Copa do Mundo da África do Sul, foi uma festa a altura do continente que estreou como organizador deste evento, não deixou nada a desejar e consagrou um vencedor inédito, a Espanha levou a taça para casa depois de uma final contra a Holanda, seleção que eliminou o Brasil nas quartas de final. Nesta Copa tivemos mais três destaques que também roubaram a cena, a polêmica bola Jabulani, as barulhentas cornetas Vuvuzelas e o vidente Polvo Paul que acertou todos os resultados. Do noticiário sobre esportes para as páginas policiais foi o ídolo de uma popular torcida brasileira, o goleiro Bruno. O ex-jogador está preso por seqüestro e morte da ex-namora e mãe de seu filho, Eliza Samudio.

O ano, que começou abalado por um terremoto, termina igualmente abalado por outro. As revelações do Wikileaks são tão ou mais devastadoras que um grande tremor de terras. Julian Assange, fundador da WikiLeaks, foi preso, acusado de crime sexual, numa tentativa de neutralizar a divulgação de informações secretas que vem embaraçando o mundo, mas não funcionou, as informações continuam sendo divulgadas e houve uma mobilização mundial em seu apoio.

Estamos chegando ao fim de mais um ano, 2010 se despede desta forma, abalando as estruturas e abrindo caminho para o primeiro ano da próxima década. No dia 31 o futuro bate a nossa porta, agora é hora de celebrar e aguardar o que ele nos reserva e, principalmente, o que faremos dele.


Relembre nas reportagens alguns acontecimentos marcantes do ano:

Terremoto no Haiti terça-feira, 12 de janeiro de 2010



Vulcão na Islândia



Nevascas








Crise na Europa



Terremoto no Chile




Terremoto na China


Chuva e deslizamento no Rio







Derramamento de Petróleo no golfo







Queimadas no Brasil e em Moscou







Lama tóxica atinge o Danúbio


Morte de Saramago (18/06)


Tropa de Elite 2


Terror no Rio





Ataque Israelense contra frota de ajuda humanitária




Resgate dos Mineiros presos em jazida no Chile




Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadnejad





Fahrenheit 11 de Setembro


Zeitgeist

Eleições Brasil



















Eleições EUA



Copa do Mundo




Caso Bruno


Wikileaks



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cotidiano: Cidade a Espera do Natal

Um cheirinho diferente paira no ar. O clima mudou, as pessoas vão e vem apressadas. Final de ano é sempre assim, um sentimento diferente nos ronda e tanta coisa para fazer; são tantas confraternizações, lembrar dos amigos, reunir a família, montar o presépio, armar a árvore, comprar aquele presente para uma pessoa especial, preparar a ceia, além disso, temos o trânsito, lojas cheias, mas é uma delícia porque estamos movidos por uma alegria, as esperanças se renovam, só não posso deixar de pensar que esta festa de amor, união, fartura e consumismo não é para todos.

No meio disso tudo, nessa loucura de corre corre, se prestarmos um pouquinho de atenção ao redor, a cidade está toda decorada para o Natal e as vezes encontramos detalhes onde menos esperamos e cada presépio é uma surpresa. Fiz algumas fotos esta semana e as compartilho aqui.

Presépio na Lagoa

Presépio políticamente correto feito de garrafas pet

Árvore de garrafas pet no hall da sede da Petrobras

Cartaz do Festival de Presépios no Jardim de Alá

Presépio no Jardim de Alá

Presépio entre Ipanema e Leblon

A maior e mais famosa árvore

Feliz Natal e Sucesso para 2011

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cultura: O Filho a Casa Torna

Imagem do site do Projeto Portinari

Sabe aquelas coisas que são únicas? Que acontecem uma única vez na vida? A exposição dos painéis “Guerra e Paz” de Cândido Portinari no Teatro Municipal do Rio de Janeiro é uma delas. Imperdível!

Esta obra, encomendada pelo Governo Brasileiro, foi pintada especialmente para ser presenteada à ONU, ficando exposta em sua Sede em Nova Iorque desde sua inauguração em 1957. A história dos painéis é significativa e comovente. Portinari foi um dos maiores gênios da pintura brasileira e justamente o que fazia de magnífico foi responsável por sua morte, é uma história de total entrega, pois sua morte foi decorrente de um envenenamento por exposição ao chumbo contido nas tintas que utilizava.

Já condenado e proibido de pintar pelos médicos, Portinari desobedece às ordens e se entrega ao trabalho de “Guerra e Paz”, realizados entre 1952 a 1956. A dimensão dos painéis faz com que sejam pintados em partes e só poderia ser vistos na sua íntegra após montados no local onde ficariam expostos. Porém, o visto para entrada nos EUA não foi concedido ao pintor por ser considerado comunista, então ele não poderia ir à inauguração de sua própria obra e morreria sem vê-la na sua plenitude. Essa situação foi contornada com uma exposição de uma semana no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, pois o Presidente Juscelino Kubistchek não permitiu que a obra fosse levada sem que o autor pudesse vê-la, assim foi o único local onde ela foi exposta além da ONU.

Incrível é que a ONU, Organização das Nações Unidas, é uma entidade internacional cujo objetivo declarado é facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos humanos e a realização da paz mundial. Daí o significado desta obra permeia as funções da organização e simbolicamente me orgulho desta obra ter sido pintada por um brasileiro e presenteada pelo nosso governo, pois está em plena sintonia com a política internacional que representamos diante das demais nações.

O que não é coerente é a Sede da ONU ser em Nova Iorque, ou seja, nos EUA, por ser um país que promove guerras para manter seu poder, para intervir em outras nações através das armas e com um arsenal nuclear com potencial destruidor inimaginável. Além de tudo, a Organização encontra-se situada em um território que muitos não têm acesso, pois têm que implorar um visto para ir até lá, portanto não sendo um país democrático por restringir a presença, em seu território, das pessoas que deveriam ter direito ao acesso a esta instituição pertencente à comunidade internacional e que representa os interesses da mesma. O caso Portinari é apenas um exemplo do jugo seletivo dos EUA, que decide quem entra ou não na Sede de uma instituição que, pelo menos em teoria, deveria pertencer ao mundo.

Na ONU os painéis ficam localizados no hall de entrada da Assembléia Geral, um local nobre, porém restrito ao público. Por isso o Projeto Portinari se empenhou em tornar esta obra monumental mais acessível. Depois do Municipal as pinturas passarão por uma restauração no Palácio Gustavo Capanema num ateliê aberto ao público no período de fevereiro a maio de 2011. Em seguida ficará exposto em diversos lugares no Brasil e no exterior, retornando a ONU em 2013.

A exposição no Teatro Municipal vai até o dia 30 de dezembro, mas não abre nos dias 24 e 25. Os horários para visitação são 10h, 12h, 14h, 16h, 18h e 20h. A entrada é franca mediante retirada de senha na bilheteria, distribuídas 30 minutos antes do início de cada sessão.

Visitação aos painéis

Mais sobre Portinari:

http://www.portinari.org.br/


http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/12/mais-famosa-obra-de-candido-portinari-volta-ao-brasil.html

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/12/exposicao-de-paineis-de-portinari-e-inaugurada-no-theatro-municipal.html

http://www.jornalacidade.com.br/editorias/caderno-c/2010/12/20/paineis-guerra-e-paz-voltam-ao-brasil-para-exposicao-e-restauro.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2ndido_Portinari

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Atualidade: WikiLeaks – Top Secret

Como disse Paulo Henrique Amorim em seu blog “uma das notáveis vantagens do Wikileaks é que ele confirma as suspeitas”. Esta frase está em perfeita sintonia com este blog e com meu propósito que é de questionar, ou refletir, sobre as informações que nos chegam e como chegam. O Wikileaks está revelando o que antes podia-se dar a desculpa que era pura e simples teoria da conspiração. Antecipando que não ficarei surpresa se em breve publicarem documentos que provem que o 11 de setembro foi armado dentro dos gabinetes governo dos EUA.

Mas, o que é o WikiLeaks? É uma organização sem fins lucrativos, com sede na Suécia, que divulga em um site informações através de documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, enviadas por fontes anônimas, sobre assuntos polêmicos como relações diplomáticas, guerras, etc.

O curioso dessa história que muitos dos arautos da liberdade da imprensa a qualquer preço, a qualquer custo, para falarem o que quiserem e passarem as informações sem a menor ética e escrúpulos agora estão contra Julian Assange fundador do Wikileaks. Este caso parece mais uma vez a inversão da lógica, assim como fala o Presidente Lula em defesa de Julian Assange: “o culpado não é quem divulgou, o culpado é quem escreveu. Portanto, em vez de culpar quem divulgou, culpem quem escreveu a bobagem”.

As informações vieram à tona e temos descoberto muitos absurdos, um exemplo deles é o Governo Norte Americano considerar todo descendente de libanês que vive no Brasil potencial terrorista, mas este é só um, tem coisas muito mais graves, como o vídeo dos soldados americanos metralhando inocentes no Iraque, e não vejo ninguém cobrando de quem escreveu e dos responsáveis pelos atos, ao invés disso, procuram de todo modo prender o responsável pela divulgação das informações. O que ele fez não é crime, tanto não é que estão tendo dificuldades para fazer uma acusação e tirá-lo de circulação, tendo sido preso por um crime que dizem que é de estupro: o cara se recusou a usar camisinha. Note que ele não agarrou ninguém a força, não violentou ninguém, não forçou a terem relações com ele sem camisinha, somente dizem que ele se recusou a usar e se recusar não é fazer o ato em si.

Se não fosse por essa acusação encontrariam outra, talvez o prendessem porque prefere comida com gorduras trans um crime contra a própria saúde, ou porque gasta muita água para lavar a calçada um crime contra o planeta, ou quem sabe porque toma dois banhos ao dia, na Europa isso provavelmente é crime. Não interessa qual o foi o crime, o que interessa é que Assange foi preso e agora está em liberdade. Em liberdade?!

O fato é que dificultaram o máximo, cobraram uma fortuna como fiança, colocaram uma tornozeleira localizadora e encheram de regras, não pode viajar, não pode ficar na rua em determinado horário, tem que se apresentar em uma delegacia uma vez por dia etc etc etc.

Particularmente, não sou a favor da liberdade descomedida da imprensa e da informação, isso é um tema polêmico e seria assunto para um outro post neste blog, não pretendo ir mais a fundo no momento. Por outro lado, também não dá para tudo ser compartilhado em público, os governos tem sim seus assuntos secretos, as empresas tem seus relatórios confidenciais, nós temos nossos segredos que não vêm à público. Só que questão, neste caso do WikiLeaks, é que percebemos, apesar de já sabermos disso, é o modo pelo qual nossas vidas são manobradas pelos governos e quanto mais poderosos são, maior sua capacidade de intervir, maior sua necessidade para sustentar sua posição de poder e maior sua intromissão nos assuntos de outras nações, pretendendo mandar mais que os lideres destas.


Para saber mais:


http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/reporteres-sem-fronteira-hospeda-site-espelho-do-wikileaks.html











terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Viagem: Subindo a Serra Para Tomar um Vinho com Noel e Provar de Chocolates Famosos

Para quem está de férias em dezembro uma boa pedida é uma viagem para Gramado. Nesta época lá acontece o Natal Luz, que é um festival com várias programações natalinas como o Grande Desfile de Natal, espetáculos como a Fantástica Fábrica de Natal e o que mais gostei o Nativitaten.

Grande Desfile de Natal

Grande Desfile de Natal 

A boa notícia é que muitas das atrações são gratuitas; Gramado por si só já é um espetáculo, a cidade parece de brinquedo de tão bonita, ainda mais vestida para a festa de Natal, sem falar de sua decoração natural, as hortênsias que nesta época estão floridas. É delicioso passear pelas ruas e olhar um a um cada pinheiro decorado, são todos diferentes, ou então passar pela rua onde fica a Exposição de Renas (estilo Cow Parede), fazer compras na Vila de Natal e no fim do dia ver o Show de Acendimento das Luzes.

Os Pinheiros são todos decorados de forma diferente, como este de Barbies

Para quem gosta de decoração Gramado também é um prato cheio, as lojas desse tipo se proliferam por toda parte, o difícil é se segurar para não sair comprando tudo; e por falar em prato, que lugar melhor para se comer bem? Uma das pedidas é se deliciar numa tarde com o famoso Café Colonial servido em muitos lugares ou à noite com um fondue acompanhado de um bom vinho.

O famoso Café Colonial, isso tudo era só para nós duas!!!!

As atrações não param, além dos atrativos natalinos, em Gramado temos o Lago Negro, inúmeras fábricas de chocolate, o Mundo a Vapor, o Minimundo, a Aldeia do Papai Noel onde pode-se ver renas de verdade e sua vizinha Canela.

Lago Negro rodeado de hotênsias

Numa das fábricas de chocolate com o maior coelho de chocolate do mundo

Entrada do Mundo a Vapor

Minimundo

Canela encontramos muito mais que sua belíssima Catedral de Pedra, temos a Cachoeira do Caracol, o Parque da Ferradura, um teleférico com vista para a Cachoeira do Caracol e o Alpen Parque que é diversão garantida.

Cachoeira do Caracol

Cachoeira do Caracol

Cachoeira do Caracol vistado teleférico

Além de tudo ainda vale uma esticadinha para Bento Gonçalves para visitar as vinícolas, fazer um passeio de Maria Fumaça no trem do vinho e ir à fábrica da Tramontina em Carlos Barbosa. Eu visitei as vinícolas Miolo e a Casa Valduga, descobri que lá tem muito mais que vinhos, pode-se fazer curso de vinho, tem hotéis, spa, restaurantes, me prometi voltar um dia e ficar hospedada numa delas.

Casa Valduga

E por fim é um ótimo lugar para se fazer compras, principalmente nesta época em que presenteamos muita gente. As dicas de compras são os tapetes feitos de couro de vaca que lá tem preço ótimos, comprei hidratantes, óleos corporais, sabonetes líquidos tudo de chocolate, a Miolo possui uma linha de hidratantes de vinho, além dos chocolates de todos os tipos.

Gramado é assim, diversão, aconchego, romance, paladar, brincadeira, compras, espetáculo, emoção e o melhor possui vizinhas a altura, sem dúvidas uma viagem que pode ser curtida de muitas formas.


Guia de Sites:

Gramado

Natal Luz

Alpen Park

Aldeia do Papai Noel

Teleférico de Canela

Cachoeira do Caracol

Parque da Ferradura

Chocolates Lugano

Chocolates Florybal

Caracol Chocolates

Chocolate Planalto

Miolo

Casa Valduga

domingo, 12 de dezembro de 2010

Atualidade: COP 16 – O Futuro do Nosso Planeta

O aquecimento global é um tema que desde a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, está na pauta do dia. Desde então vem se intensificando movimentos, governamentais e não governamentais, em prol da preservação da natureza uma vez que estamos sentindo, cada vez mais, as mudanças no clima da Terra.

Esta mudança se dá, em grande parte, devido a ação do homem ao explorar os recursos do planeta para sustentar nosso modo de vida. A grande questão e principal geradora de impasses nas negociações que prometem ações para salvar a Terra é a desigualdade existente entre países desenvolvidos e os mais pobres, uma vez que os primeiros vivem um alto grau de capitalismo, ou seja, sugou muito mais recursos do planeta do que um país pobre para manter seu estilo de vida e alto padrão de consumo. Porém, a conta está sendo cobrada de todos, os problemas ambientais não vem apenas para alguns. O pior é que quanto mais pobre o país menos recursos e tecnologia tem para se defender e apesar de terem sido os que menos devastaram o planeta, provavelmente serão os que mais sofrerão.

Os principais instrumentos do regime de monitoramento e enfrentamento do processo de mudanças climáticas são a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, assinada no Rio de Janeiro em junho de 1992, e o Protocolo de Kyoto, assinado na cidade japonesa com este nome, em dezembro de 1997. No Protocolo de Kyoto existem metas de redução dos gases do efeito estufa para os países mais poluidores e a validade deste acordo vai até 2012, após isso não existem outros planos para salvar o planeta.

Uma amostra de como se encontra a situação foram as negociações, para firmar um acordo sobre as metas de redução da poluição, preparatórias para o polêmico COP 15 – 15ª Conferencia das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – ocorrida em dezembro de 2009 em Copenhague. Os principais líderes mundiais divergiram tanto na quantificação da meta quanto se vão estipulá-las, dentre os quais, os países mais poluidores – EUA e China – eram contra um acordo vinculante (obrigatório) que estipulasse metas. A ação coletiva é absolutamente necessária, pois os efeitos do problema não respeitam fronteiras políticas e se apenas alguns países se comprometerem com ações necessárias, o resultado poderá ser insuficiente, a não ser que sejam eles os maiores poluidores.

Apesar de todas as comprovações, historicamente não tem havido grandes progressos nas negociações para encontrar uma solução que reduza as emissões de gases. Em março de 2001, o governo Bush anunciou oficialmente que se retirava das negociações do Protocolo de Kyoto por considerá-lo inapropriado para lidar com a mudança climática por duas razões: a falta de relevância depositada aos mecanismos de mercado e o não estabelecimento de compromissos para os países de renda média com rápido crescimento de emissões.

Mesmo sem a presença dos EUA, a União Européia decidiu levar adiante as negociações para completar e ratificar o Protocolo. Para tanto, foi preciso reconhecer os créditos por seqüestro de carbono através do manejo das florestas e do solo; não colocar restrições ao uso dos mecanismos flexibilizadores; e aceitar um regime reduzido de sanções. A posição negociadora da União Européia baseou-se no princípio de que um acordo mínimo seria melhor do que o encerramento total do Protocolo de Kyoto que oficialmente entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois que a Rússia o ratificou em novembro de 2004.

A reunião realizada ano passado em Copenhague teria como objetivo envolver o mundo em ações concretas para evitar o aquecimento global, na qual, o resultado deveria ser um acordo abrangente que substituísse o Protocolo de Kyoto, ou seja, esperava-se que os países se comprometessem a cortar gases do efeito estufa segundo as recomendações científicas de modo a evitar uma alta da temperatura global superior a 2°C neste século, para tanto, seria preciso que as nações industrializadas cortassem suas emissões de gases-estufa entre 25% a 40% até 2020, e em 80% a 95% até 2050 e as outras nações deveriam colaborar com ações consistentes para frear suas emissões ou não aumentá-las. A carta de intenções resultou num acordo de caráter não vinculativo onde não consta metas de redução, somente valores monetários, dos quais as nações ricas se comprometem a direcionar US$ 30 bilhões nos próximos três anos para ajudar nações pobres a lidar com as alterações climáticas.

A Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 16), em Cancún, no México, aprovou um pacote de decisões sobre ações para enfrentar as causas e efeitos das mudanças climáticas. Uma das principais medidas é a criação do "Fundo Verde", um mecanismo para que os países ricos ajudem financeiramente os mais pobres na luta contra as mudanças climáticas, retomando o compromisso aberto pelo Acordo de Copenhague. Propõe ainda a formação de um fundo climático de US$ 100 bilhões ao ano até 2020.

A questão é que a COP 16, realizada este ano, se encerrou e 2012 está próximo, porém continuamos sem nenhum acordo que substitua o protocolo de Kyoto. Muitos países, inclusive o Brasil, defende a continuidade do Protocolo, porém outros acham sem sentido uma vez que ele não se aplica a China e EUA (que não o ratificaram), os dois maiores emissores de gases-estufa.

Cada um de nós está submetido a um Estado nacional, com fronteiras políticas e com a sobrevivência ameaçada por um problema que não enxerga a linha divisória destas fronteiras, então a grande questão é que seu poder local, subnacional ou nacional, sozinhos, não podem garantir-lhe uma vida de qualidade. O homem faz parte da humanidade, portanto é preciso que as autoridades públicas ajam considerando este fato. De uma forma ou de outra nosso modo de vida terá que ser modificado, nós podemos escolher como e trabalharmos em conjunto para atingi-lo ou deixando isso a cargo da própria natureza.


Para saber mais:





BARROS-PLATIAU, A. F.. Os atores da governança ambiental à luz das novas configurações de poder. In: I Encontro Nacional ABRI, 2007, Brasília. I Encontro Nacional ABRI, 2007.

PAIXÃO, Manuela Rocha; Como os padrões de desenvolvimento sociais e de consumo atuais interferem nas relações do homem com o Meio Ambiente, UNIBAHIA, 2009.

PORTILHO, Fátima; Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania, Cortez Editora, São Paulo, 2005.

VIOLA, José Eduardo; O Regime Internacional de Mudança Climática e o Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 17, n. 50, p. 25-46, 2002.

SILVA, Alberto Teixeira da; Brasil e Desafios Multidimensionais das Mudanças Climáticas, 31º Encontro Anual da ANPOCS, outubro de 2007.