Relembrando os acontecimentos deste ano, fiz uma relação do que marcou o ano de 2010 e, em minha opinião, os cinco fatos que mais marcaram, não necessariamente em ordem de importância foram: a Invasão ao Morro do Alemão, o Resgate dos Mineiros no Chile, a Explosão do Vulcão na Islândia, o Derramamento de Petróleo no Golfo do México e as Revelações do Wikileaks.
Mas se ater apenas a isso é pouco representativo do ano que está acabando que foi bem intenso, como tem sido os últimos anos. A internet e a pulverização de câmeras ajudam a disseminar as imagens e notícias que nos chegam, dando esta impressão de intensidade, estamos vendo mais, sabendo mais, acessando mais, nos comunicando mais, cada um de nós é protagonista da informação como nunca foi possível em outra época da história.
Com a virada do ano chegamos ao fim da primeira década do Século XXI, já se passaram 10 anos do novo milênio, para os que pensaram que o mundo ia acabar chegamos relativamente bem até aqui, mas o apocalipse não para de se anunciar, sendo assim, que seja bem vindo 2011. Mais um ano chega e aguardemos o que vai nos reservar. Por hora, lembremos o que passou.
Na era da preocupação com o Planeta, a Terra continua nos dando trabalho, começamos o ano com um terremoto no já tão pobre Haiti, aumentando ainda mais uma miséria que já parecia ter atingido seu auge. Este episódio também ficou marcado por perdermos Zilda Arns que estava em Porto Príncipe para uma palestra. A Terra tremeu ainda mais, abalou também Chile e a China. A rica, elegante e madura Europa também não atravessou incólume o ano de 2010. Um vulcão na Islândia deixou todo mundo no chão e mostrou o quanto necessitamos de asas nos dias de hoje, depois veio a neve intensa cobrir o inverno de branco e completar o trabalho, não só na Europa, mas também nos Estados Unidos. Um tremor também abalou o Velho Continente, mas este não foi sentido na terra, mas nos bolsos. A crise financeira foi ameaçadora, principalmente para Grécia, onde ruíram as colunas que sustentam sua economia e se propagou para Espanha, Portugal, Irlanda e daí para o resto do mundo, são os ciclos do capitalismo em marcha.
A natureza continuou aprontando. Em abril o Rio de Janeiro parou depois de cair um volume de chuva recorde para um único dia, impedindo as pessoas voltarem para casa, causando estragos, deslizamentos e mortes. O auge da tragédia foi o deslizamento do Morro do Bumba em Niterói, revelando a precariedade das condições de vida a que estamos nos submetendo e o descaso de nossos governantes. Barracos que por si só não eram dignos de moradia desabaram trazendo consigo montes de lixo de um antigo lixão por cima do qual foram construídos, não havia mais separação entre o lar, a vida humana e os dejetos da produzidos pela sociedade.
Muitas das tragédias são provocadas pela mão do próprio homem. Este ano aconteceu um derramamento de petróleo sem precedentes no Golfo do México, causando um impacto ambiental que a natureza levará décadas para se recuperar. Já em terra firme tivemos dificuldades para respirar, do interior do Brasil à Rússia as queimadas nas florestas apagaram as paisagens, dissolvidas no meio de tanta fumaça. O Danúbio, que já foi azul e tema que já embalou muitos casais que rodopiavam pelos salões ao som da valsa de Strauss, se viu ameaçado por uma onda de lama tóxica que vazou de uma indústria de alumínio da Hungria. No seu rastro de destruição a lama vem arruinando o ambiente e arrastando consigo o pouco que resta da poesia no mundo, apagando a paisagem que um dia encantou e inspirou.
Mas, se no mundo ainda resta poesia perdemos alguém que muito bem sabia transformá-la em prosa. Em dezoito de julho morreu o grande escritor da língua portuguesa, o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago. Ainda no cenário das artes, pelo menos na República das Bananas, o destaque do ano foi a volta às telas do cinema do Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2. Filme que retrata nossa sociedade e política, onde o pobre favelado tem no destino ser traficante (usando aqui o estereótipo, pois estereotipados são eles na visão etnocêntrica de quem está de fora), só é derrotado por uma polícia-milícia que toma o seu lugar e seus lucros, com o aval de políticos para quem o importante é o número de votos que podem obter. Assim, Nascimento vira o herói, o único capaz de exterminar (no sentido literal) os bandidos sob os aplausos da platéia.
Enquanto isso, na vida real, a ficção inspirada na realidade, atravessa a tela e se torna mesmo real e o real se torna espetáculo transmitido ao vivo direto para nossa sala de estar. Dessa vez o Capitão Nascimento não é o herói, mas os anônimos do BOPE, do exército, da marinha, das polícias que entram na favela em busca dos bandidos em fuga, das armas ilegais, das drogas e da salvação dos pobres que vivem sob o jugo do tráfico. Em novembro, uma onda de terror tomou conta do Rio, carros e ônibus eram queimados em toda Região Metropolitana e a resposta das autoridades responsáveis foi inesperada e inédita. O resultado foi a expulsão do tráfico de drogas de duas das mais perigosas favelas do Rio de Janeiro, território dominado pelo poder paralelo, onde o Estado não se fazia presente. Agora somente o tempo dirá se essas pessoas terão um futuro melhor, porém, enquanto houver a brutalização dos pobres, o destino de muitos deles será o do crime. Enquanto isso, as imagens podem ser compradas nos camelôs com o título de Tropa de Elite 3 e assistidas no conforto de nossas poltronas enquanto nos empanturramos de pipoca.
Em outro lugar, numa realidade produzida por um processo histórico diferente, mas que gera pessoas igualmente excluídas socialmente, num lugar onde o muro de separação não é apenas imaginário, como o do Rio de Janeiro, mas feito de concreto, onde qualquer ajuda humanitária não será suficiente, encontra-se dominado por um Estado invasor que se acha no direito de subjugar um povo inteiro. Em maio, Israel atacou, em águas internacionais, uma frota que levava ajuda humanitária a Gaza matando 19 ativistas. Israel alega que reagiu a uma tentativa de furar o bloqueio à Faixa de Gaza, porém, os militares israelenses estavam fortemente armados e investiram contra pessoas com facas, bastões e estilingue. A questão é que a faixa de Gaza NÃO é território de Israel, então que direito têm de fazer um bloqueio? Tanto não tem que a ação provocou manifestações indignadas no mundo todo, foi solicitada uma investigação que comprovou que a ação foi desastrosa, porém parece que Israel sairá mesmo impune e quem sofre com isso é o povo oprimido que vive em condições desumanas em Gaza, semelhante àquela dos tão conhecidos campos do Holocausto. A história se repete, não serviu para ensinar e as vitimas se tornaram algozes.
Ainda no âmbito internacional, a notícia mais marcante foi o resgate dos 33 mineiros vivos no Chile após 69 dias presos, uma operação sem precedentes que durou quase 23 horas. Os trabalhadores foram içados em uma cápsula construída especialmente para esta operação. O resgate foi acompanhado ao vivo por um mundo emocionando-se, junto com as famílias das vítimas, por cada um que era retirado e saíam de lá muito bem.
Outro fato que também foi manchete, mas que não repercutiu bem internacionalmente, foi a declaração de Mahmoud Ahmadnejad na Assembléia Geral da ONU em setembro, quando disse que “muitas pessoas" acreditam que o governo americano foi o verdadeiro responsável pelos ataques de 11 de setembro, "a maioria do povo americano e muitos países e políticos pelo mundo concordam com essa versão". Muitas autoridades se retiraram da Assembléia, os representantes dos EUA foram os primeiros, afinal têm que continuar representando o papel e manter a versão de que o ataque foi orquestrado pelo bode expiatório Osama Bin Laden. O que Ahmadnejade disse não foi nenhum absurdo, realmente muitos acreditam nisto e qualquer um que pense um pouquinho achará difícil acreditar na versão oficial. Para saber mais, basta assistir Fahrenheit 11 de Setembro de Michael Moore ou Zeitgeist de Peter Joseph. O Presidente do Irã também foi pivô de outra polêmica, sobre o seu direito de enriquecimento de urânio, que dentre muitos usos serve para fins medicinais e fabricar a bomba atômica. Argumenta-se que ele pretende usar o urânio enriquecido para produzir a bomba, o curioso é que alguns dos opositores do Irã são países possuidores de um enorme arsenal de bombas nucleares, dentre eles, EUA e Israel, sendo que um deles já até jogou duas bombas contra uma população civil matando milhares de inocentes. Quem são os terroristas?
Continuando no campo da política, no Brasil tivemos eleições presidenciais, depois de oito anos de governo Lula da Silva, não podendo mais se reeleger e pela primeira vez depois da redemocratização não o tínhamos como opção de voto. Depois do país ter sido governado por um operário, elegemos nossa primeira Presidenta mulher, Dilma Roussef. Mas, tivemos a mais agressiva e difamatória campanha eleitoral da história do país, nunca tantas mentiras e calúnias forma feitas, até uma simulação de agressão foi ao ar no horário nobre e desmascarada, pois não passou de uma letal bolinha de papel; que papelão! Tentou-se de tudo para evitar a vitória de Dilma, mas o prestígio e popularidade de Lula a elegeram, coisa que nem Barack Obama conseguiu nos EUA. Sofrendo um revés nas eleições legislativas americanas, seu partido, o Democrata, ficou com a maioria apenas no Senado, porque o Partido Republicano reconquistou a maioria na Câmara dos Representantes, que nos últimos quatro anos os democratas ocuparam em maioria. Por aqui, o campeão de votos foi o palhaço Tiririca, eleito Deputado Federal por São Paulo, o mesmo Estado que tem uma parcela da população preconceituosa contra os brasileiros nascidos no belíssimo Nordeste de nosso imenso e diverso país.
Não posso terminar este post sem falar da Copa do Mundo da África do Sul, foi uma festa a altura do continente que estreou como organizador deste evento, não deixou nada a desejar e consagrou um vencedor inédito, a Espanha levou a taça para casa depois de uma final contra a Holanda, seleção que eliminou o Brasil nas quartas de final. Nesta Copa tivemos mais três destaques que também roubaram a cena, a polêmica bola Jabulani, as barulhentas cornetas Vuvuzelas e o vidente Polvo Paul que acertou todos os resultados. Do noticiário sobre esportes para as páginas policiais foi o ídolo de uma popular torcida brasileira, o goleiro Bruno. O ex-jogador está preso por seqüestro e morte da ex-namora e mãe de seu filho, Eliza Samudio.
O ano, que começou abalado por um terremoto, termina igualmente abalado por outro. As revelações do Wikileaks são tão ou mais devastadoras que um grande tremor de terras. Julian Assange, fundador da WikiLeaks, foi preso, acusado de crime sexual, numa tentativa de neutralizar a divulgação de informações secretas que vem embaraçando o mundo, mas não funcionou, as informações continuam sendo divulgadas e houve uma mobilização mundial em seu apoio.
Estamos chegando ao fim de mais um ano, 2010 se despede desta forma, abalando as estruturas e abrindo caminho para o primeiro ano da próxima década. No dia 31 o futuro bate a nossa porta, agora é hora de celebrar e aguardar o que ele nos reserva e, principalmente, o que faremos dele.
Relembre nas reportagens alguns acontecimentos marcantes do ano:
Terremoto no Haiti terça-feira, 12 de janeiro de 2010
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1444704-5602,00-VEJA+VIDEOS+SOBRE+O+TERREMOTO+NO+HAITI.html
Vulcão na Islândia
Nevascas
Crise na Europa
Terremoto no Chile
Terremoto na China
Chuva e deslizamento no Rio
Derramamento de Petróleo no golfo
Queimadas no Brasil e em Moscou
Lama tóxica atinge o Danúbio
Morte de Saramago (18/06)
Tropa de Elite 2
Terror no Rio
Ataque Israelense contra frota de ajuda humanitária
Resgate dos Mineiros presos em jazida no Chile
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/10/cobertura-completa-o-resgate-dos-33-mineiros-no-chile.html
Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadnejad
Fahrenheit 11 de Setembro
Zeitgeist
Eleições Brasil
Eleições EUA
Copa do Mundo
Caso Bruno
Wikileaks
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